sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ultimo dia do ano

Este ano não comprei nada de novo para vestir no reveillon. De propósito. Vou passar em uma festa na casa de amigos, com um vestido de 10 anos atrás. Feliz,em primeiro lugar por ainda me caber, mas principalmente por estar iniciando o ano com esse voto de desapego ao consumo desnecessário. De valorizar tudo o que tenho. De agradecer o fato de que hoje, não preciso refazer, e sim reafirmar minha lista de escolhas.
Como complementos, vou usar não as coisas que comprei e sim justamente aquelas que me foram presenteadas por pessoas queridas. De propósito.
Com minha casa em ordem, o chão lavado, as gavetas organizadas, as antigas roupas devidamente doadas para o brechó, despeco-me de 2010.
E finalizo esse post com a única oracão que cabe ao último dia de um ano muito abencoado:

Salmo 23, de Davi.

O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará.

Deitar-me faz em verdes pastos,
guia-me mansamente às águas tranquilas;

Refrigera a minha alma,
guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome,

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte
não temeria mal algum, porque tu estás comigo,
a tua vara e o teu cajado me consolam;

Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos,
unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda;

Certamente que a bondade e a misericórdia
me seguirão todos os dias de minha vida,
e habitarei na casa do Senhor por longos dias.

Amém.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Em recesso

Entrei em recesso em meus trabalhos e decidi tirar uma semana sabática. Tenho acordado a hora que quero. Ido à piscina com as crianças. Inventado modas para o almoço. Fiz as compras de natal, arrumei uma bela decoração para a sala e exterior da casa, preparei os cardápios, convidei os amigos sem família por aqui, e realizamos uma festa muito animada.
Adoro o natal, suas cores, suas musicas, sua fantasia. Adoro receber pessoas queridas em casa.
A família do meu marido decidiu vir passar conosco. Então, a cada dia, temos feito coisas diferentes. Ontem, por exemplo, colocamos a mesa na varanda e fizemos uma fiesta mexicana, com direito a tacos, burritos e muitas margaritas frozen.
Ou então, piscina noite adentro, toda iluminada de velas, enquanto o jantar está sendo preparado no fogãozinho a lenha.
Pela manhã, hidroginástica e muito sol, antes de sairmos para pequenas comprinhas na Bolívia.
Minha cunhadinha Daniela vai casar e esses últimos momentos, de intimidade só da família, com certeza ficarão para sempre registrados na memória de todos!

Beijos e um feliz natal!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Dalva de Oliveira canta versão oficial do Cisne Branco.




No dia 13 de Dezembro comemoramos o Dia do Marinheiro. É o dia do aniversário do Almirante Tamandaré, patrono da Marinha do Brasil.
Cultivar nosso patrono, é cultivar nossa história e exaltar os belos valores preconizados pela Rosa das Virtudes, conhecida de todos os militares.
Entre os diversos vídeos disponíveis no youtube para ilustrar esse post, escolhi a maravilhosa Dalva de Oliveira, interpretando o Hino da Marinha do Brasil, que é a cancão Cisne Branco, em 1970.

Servir à Marinha é um grande privilégio.

Bjs,
Márcia.



Cisne Branco

(Hino da Marinha de Guerra do Brasil)

Autoria:

Música: Antonino M. do Espírito Santo (Exército Brasileiro)
Letra: Benedito X. de Macedo (Marinha do Brasil)


Qual cisne branco que em noite de lua
Vai deslizando no lago azul
O meu navio também flutua
Nos verdes mares de norte a sul

Linda galera que em noite apagada
Vai navegando no mar imenso
Nos traz saudades da terra amada
Da Pátria minha em que tanto penso

Quanta alegria nos traz a volta
À nossa pátria do coração
Estava cumprida a nossa derrota
Temos cumprido nossa missão

Linda galera que em noite apagada
Vai navegando no mar imenso
Nos traz saudades da terra amada
Da Pátria minha em que tanto penso

Qual linda garça
Que aí vai cortando os ares
Vai navegando sob um belo céu de anil
Minha galera também vai cortando os mares
Os verdes mares, os mares verdes do Brasil

Quanta alegria nos traz a volta
À nossa pátria do coração
Dada por finda a nossa derrota
Temos cumprido nossa missão

Linda galera que em noite apagada
Vai navegando no mar imenso
Nos traz saudades da terra amada
Da Pátria minha em que tanto penso.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Lista de natal

Queridos amigos,

Para todos que quiserem me enviar um presentão, divulgo, com a maior cara de pau, minha lista de livros-desejo para este natal!

1- Crônica de duas cidades- Charles Dickens
2- Cinefilô- as mais belas questões da filosofia no cinema- Editora Jorge Zahar
3- Um trem para o oeste- Fernado Azevedo
4- Cartas a um jovem poeta- Rainer Rilke
5- A margem da Historia- Euclides da Cunha
6- Viagem a Portugal- José Saramago
7- Ensaio acerca da tolerancia- John Locke
8- A ética protestante e o espírito do capitalismo- Max Weber
9- O outono do patriarca- Gabriel Garcia Marques
10- Os donos do poder- Raymundo Faoro.

Nem precisam ser novinhos. Aliás, a Estante Virtual é um sebo que entrega em casa!Os livros usadíssimos tem a sua história particular, e eu os adoro e respeito muito!Além do que são muito mais baratos! Vejam:

www.estantevirtual.com.br

Aceito de bom grado todo tipo de doação literária!
Beijos!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Meu final de ano de 2010

Entreguei no dia 30 minha pasta de estágio, onde constavam as 40 aulas que ministrei no ensino fundamental este ano, as 40 que assisti querendo minha mãe, além das outras 40 participacões que fiz sabe Deus como.
Minhas colegas me auxiliaram com as resenhas, uma vez que eu deveria ter assistido aos seguintes filmes: Laranja Mecânica, Queimada e O Leopardo.
Talvez eu os assista, em alguma madrugada em que me sobre tempo.
Entreguei dois trabalhos que me sufocavam há bastante tempo. O primeiro sobre Antigos Regimes Europeus. Talvez eu publique aqui, vou perguntar à minha filha se é muito chato. O último sobre a apreciacão de Eric Hobsbawn a respeito da Revolucão Francesa, em seu livro A Era das Revolucões. Um clássico que me consumiu. Digo sem sombra de exageros que Eric Hobsbawn tentou acabar com a minha vida.
Além disso, escrevi e dirigi uma peca de teatro sobre a chegada de Colombo na Ilha de Santo Domingo (pensando que estava na China, coitado). Foi um sucesso, uma vez que todo o cenário e figurino foi feito com lixo reciclado. Muitas embalagens vazias, jornais e o trono do rei feito com garrafas vazias. A sala aqui de casa virou um ateliê de artes plásticas!
Minha amiga Aurice trabalha com voluntariado e através dela fiz contato com um grupo da prefeitura, que apoia jovens ensinando a trabalhar com reciclagem de garrafas pet. Fizemos uma parceria. Deu tudo certo, o sucesso foi estrondoso e fiquei muito orgulhosa!
Ao mesmo tempo, como coordenadora das Voluntárias Cisne Branco precisei colocar em prática algumas acões. A primeira foi a organizacão de um brechó, em novembro, no intuito de arrecadar verba para tocar nossos projetos no próximo ano. Deu bastante trabalho, mas foi recompensador. O brechó aconteceu.
Também com a ajuda de outras voluntárias, tocamos o projeto Pré Natal saudável, que através de diversas atividades, orientou um grupo de mulheres nesse momento tão delicado que é a gestacão!Foram encontros com nutricionistas, psicólogas, bombeiro, teve curso de shantala, teve diversas dinâmicas e sei que fizemos um bonito trabalho.
Amanhã é nossa festa de encerramento das atividades e inventei um desfile de modas. A coisa cresceu. A cidade aderiu em peso, os convites se esgotaram. Divulguei nosso evento na SOAMAR, no Lions, no Rotary e na Casa da Amizade. Precisei contratar buffet, decorador, DJ, maquiador, cabeleireiro, correr atras de patrocinadores, uma loucura! Hoje fui até o local do evento para assistir aos ensaios de passarela.
Gente, por isso que eu sumi!
Mas estou muito feliz, porque esse ano eu realizei muito. Viajei bastante, tomei conta de minha família, estudei com filho, dei plantão em hospital público, servico em Sala de Estado, atendi as criancas na prefeitura, organizei acões sociais, assumi mais responsabilidades no hospital onde trabalho, coisas que iam acabar acontecendo...
E entre trancos e barrancos deu tudo certo, foi só comecar a fazer!
Beijos,
sua amiga(ainda viva, cansada, mas muito feliz),
Marcia.

Explicando HOWL (O uivo) de Ginsberg

Com relacão à postagem anterior, encerrando minha fase beatnik, apresentei na íntegra a primeira parte do poema HOWL, de Allen Ginsberg.
O uivo, como foi traduzido aqui no Brasil, é um poema muito interessante. A forma como ele foi escrito, para ser lido em voz alta por uma pessoa absolutamente boa de folego. Prestes a morrer por falta de ar. De preferencia,quase aos berros. Na dúvida, veja o vídeo em que o próprio autor o declama.
É um poema-desabafo. Junto com ON THE ROAD, formam a base daquilo que se entendeu como contracultura. Ele fala das dificuldades dos jovens americanos na era macartista. A busca pela realizacão, muitas vezes fora de alcance. Fala da realidade dos jovens comuns, dos artistas que não se realizaram plenamente.
Demonstra a insatisfacão de toda uma geracão. Conta como a sociedade pode ser opressora com aqueles que estão à sua margem, os homossexuais, os usuários de drogas, as prostitutas. Demonstra o modo de vida dos marginais, e acaba por influenciar todo o comportamento da juventude mundial, subvertendo as regras usuais.
Eu gosto muito desse universo da contracultura. Todo jovem que se diz "revoltado" deveria ler essas obras e ver que nada disso é novidade.
Principalmente gosto de tudo que derivou desse movimento, nas artes. Filmes de James Dean, musicais do quilate de Hair, os festivais de música, a onda hippie que se originou daí.
E principalmente do desfecho. Elis Regina cantando que apesar de tudo, tudo que fizemos ainda somos os mesmo. Como nossos pais. Lindo!

PS:
Esqueci de dizer que Howl foi escrito para Carl Solomon, poeta da geracão beat, cuja obra foi influenciada pelo dadaísmo e com sérios problemas psiquiátricos. Era amigo de Ginsberg e Kerouac.
Voltem ao poema, meus amigos, leiam. Se não puderem ler em inglês, por favor, busquem sua traducão no google. Tudo o que lá está escrito é real, foi parte da vida de Solomon e sua turma.
Beijos.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Allen Ginsberg Reading Howl (Part 1)





HOWL (PART I)

For Carl Solomon



I saw the best minds of my generation destroyed by
madness, starving hysterical naked,
dragging themselves through the negro streets at dawn
looking for an angry fix,
angelheaded hipsters burning for the ancient heavenly
connection to the starry dynamo in the machin-
ery of night,
who poverty and tatters and hollow-eyed and high sat
up smoking in the supernatural darkness of
cold-water flats floating across the tops of cities
contemplating jazz,
who bared their brains to Heaven under the El and
saw Mohammedan angels staggering on tene-
ment roofs illuminated,
who passed through universities with radiant cool eyes
hallucinating Arkansas and Blake-light tragedy
among the scholars of war,
who were expelled from the academies for crazy &
publishing obscene odes on the windows of the
skull,
who cowered in unshaven rooms in underwear, burn-
ing their money in wastebaskets and listening
to the Terror through the wall,
who got busted in their pubic beards returning through
Laredo with a belt of marijuana for New York,
who ate fire in paint hotels or drank turpentine in
Paradise Alley, death, or purgatoried their
torsos night after night
with dreams, with drugs, with waking nightmares, al-
cohol and cock and endless balls,
incomparable blind; streets of shuddering cloud and
lightning in the mind leaping toward poles of
Canada & Paterson, illuminating all the mo-
tionless world of Time between,
Peyote solidities of halls, backyard green tree cemetery
dawns, wine drunkenness over the rooftops,
storefront boroughs of teahead joyride neon
blinking traffic light, sun and moon and tree
vibrations in the roaring winter dusks of Brook-
lyn, ashcan rantings and kind king light of mind,
who chained themselves to subways for the endless
ride from Battery to holy Bronx on benzedrine
until the noise of wheels and children brought
them down shuddering mouth-wracked and
battered bleak of brain all drained of brilliance
in the drear light of Zoo,
who sank all night in submarine light of Bickford's
floated out and sat through the stale beer after
noon in desolate Fugazzi's, listening to the crack
of doom on the hydrogen jukebox,
who talked continuously seventy hours from park to
pad to bar to Bellevue to museum to the Brook-
lyn Bridge,
lost battalion of platonic conversationalists jumping
down the stoops off fire escapes off windowsills
off Empire State out of the moon,
yacketayakking screaming vomiting whispering facts
and memories and anecdotes and eyeball kicks
and shocks of hospitals and jails and wars,
whole intellects disgorged in total recall for seven days
and nights with brilliant eyes, meat for the
Synagogue cast on the pavement,
who vanished into nowhere Zen New Jersey leaving a
trail of ambiguous picture postcards of Atlantic
City Hall,
suffering Eastern sweats and Tangerian bone-grind-
ings and migraines of China under junk-with-
drawal in Newark's bleak furnished room,
who wandered around and around at midnight in the
railroad yard wondering where to go, and went,
leaving no broken hearts,
who lit cigarettes in boxcars boxcars boxcars racketing
through snow toward lonesome farms in grand-
father night,
who studied Plotinus Poe St. John of the Cross telep-
athy and bop kabbalah because the cosmos in-
stinctively vibrated at their feet in Kansas,
who loned it through the streets of Idaho seeking vis-
ionary indian angels who were visionary indian
angels,
who thought they were only mad when Baltimore
gleamed in supernatural ecstasy,
who jumped in limousines with the Chinaman of Okla-
homa on the impulse of winter midnight street
light smalltown rain,
who lounged hungry and lonesome through Houston
seeking jazz or sex or soup, and followed the
brilliant Spaniard to converse about America
and Eternity, a hopeless task, and so took ship
to Africa,
who disappeared into the volcanoes of Mexico leaving
behind nothing but the shadow of dungarees
and the lava and ash of poetry scattered in fire
place Chicago,
who reappeared on the West Coast investigating the
F.B.I. in beards and shorts with big pacifist
eyes sexy in their dark skin passing out incom-
prehensible leaflets,
who burned cigarette holes in their arms protesting
the narcotic tobacco haze of Capitalism,
who distributed Supercommunist pamphlets in Union
Square weeping and undressing while the sirens
of Los Alamos wailed them down, and wailed
down Wall, and the Staten Island ferry also
wailed,
who broke down crying in white gymnasiums naked
and trembling before the machinery of other
skeletons,
who bit detectives in the neck and shrieked with delight
in policecars for committing no crime but their
own wild cooking pederasty and intoxication,
who howled on their knees in the subway and were
dragged off the roof waving genitals and manu-
scripts,
who let themselves be fucked in the ass by saintly
motorcyclists, and screamed with joy,
who blew and were blown by those human seraphim,
the sailors, caresses of Atlantic and Caribbean
love,
who balled in the morning in the evenings in rose
gardens and the grass of public parks and
cemeteries scattering their semen freely to
whomever come who may,
who hiccuped endlessly trying to giggle but wound up
with a sob behind a partition in a Turkish Bath
when the blond & naked angel came to pierce
them with a sword,
who lost their loveboys to the three old shrews of fate
the one eyed shrew of the heterosexual dollar
the one eyed shrew that winks out of the womb
and the one eyed shrew that does nothing but
sit on her ass and snip the intellectual golden
threads of the craftsman's loom,
who copulated ecstatic and insatiate with a bottle of
beer a sweetheart a package of cigarettes a can-
dle and fell off the bed, and continued along
the floor and down the hall and ended fainting
on the wall with a vision of ultimate cunt and
come eluding the last gyzym of consciousness,
who sweetened the snatches of a million girls trembling
in the sunset, and were red eyed in the morning
but prepared to sweeten the snatch of the sun
rise, flashing buttocks under barns and naked
in the lake,
who went out whoring through Colorado in myriad
stolen night-cars, N.C., secret hero of these
poems, cocksman and Adonis of Denver-joy
to the memory of his innumerable lays of girls
in empty lots & diner backyards, moviehouses'
rickety rows, on mountaintops in caves or with
gaunt waitresses in familiar roadside lonely pet-
ticoat upliftings & especially secret gas-station
solipsisms of johns, & hometown alleys too,
who faded out in vast sordid movies, were shifted in
dreams, woke on a sudden Manhattan, and
picked themselves up out of basements hung
over with heartless Tokay and horrors of Third
Avenue iron dreams & stumbled to unemploy-
ment offices,
who walked all night with their shoes full of blood on
the snowbank docks waiting for a door in the
East River to open to a room full of steamheat
and opium,
who created great suicidal dramas on the apartment
cliff-banks of the Hudson under the wartime
blue floodlight of the moon & their heads shall
be crowned with laurel in oblivion,
who ate the lamb stew of the imagination or digested
the crab at the muddy bottom of the rivers of
Bowery,
who wept at the romance of the streets with their
pushcarts full of onions and bad music,
who sat in boxes breathing in the darkness under the
bridge, and rose up to build harpsichords in
their lofts,
who coughed on the sixth floor of Harlem crowned
with flame under the tubercular sky surrounded
by orange crates of theology,
who scribbled all night rocking and rolling over lofty
incantations which in the yellow morning were
stanzas of gibberish,
who cooked rotten animals lung heart feet tail borsht
& tortillas dreaming of the pure vegetable
kingdom,
who plunged themselves under meat trucks looking for
an egg,
who threw their watches off the roof to cast their ballot
for Eternity outside of Time, & alarm clocks
fell on their heads every day for the next decade,
who cut their wrists three times successively unsuccess-
fully, gave up and were forced to open antique
stores where they thought they were growing
old and cried,
who were burned alive in their innocent flannel suits
on Madison Avenue amid blasts of leaden verse
& the tanked-up clatter of the iron regiments
of fashion & the nitroglycerine shrieks of the
fairies of advertising & the mustard gas of sinis-
ter intelligent editors, or were run down by the
drunken taxicabs of Absolute Reality,
who jumped off the Brooklyn Bridge this actually hap-
pened and walked away unknown and forgotten
into the ghostly daze of Chinatown soup alley
ways & firetrucks, not even one free beer,
who sang out of their windows in despair, fell out of
the subway window, jumped in the filthy Pas-
saic, leaped on negroes, cried all over the street,
danced on broken wineglasses barefoot smashed
phonograph records of nostalgic European
1930s German jazz finished the whiskey and
threw up groaning into the bloody toilet, moans
in their ears and the blast of colossal steam
whistles,
who barreled down the highways of the past journeying
to each other's hotrod-Golgotha jail-solitude
watch or Birmingham jazz incarnation,
who drove crosscountry seventytwo hours to find out
if I had a vision or you had a vision or he had
a vision to find out Eternity,
who journeyed to Denver, who died in Denver, who
came back to Denver & waited in vain, who
watched over Denver & brooded & loned in
Denver and finally went away to find out the
Time, & now Denver is lonesome for her heroes,
who fell on their knees in hopeless cathedrals praying
for each other's salvation and light and breasts,
until the soul illuminated its hair for a second,
who crashed through their minds in jail waiting for
impossible criminals with golden heads and the
charm of reality in their hearts who sang sweet
blues to Alcatraz,
who retired to Mexico to cultivate a habit, or Rocky
Mount to tender Buddha or Tangiers to boys
or Southern Pacific to the black locomotive or
Harvard to Narcissus to Woodlawn to the
daisychain or grave,
who demanded sanity trials accusing the radio of hyp
notism & were left with their insanity & their
hands & a hung jury,
who threw potato salad at CCNY lecturers on Dadaism
and subsequently presented themselves on the
granite steps of the madhouse with shaven heads
and harlequin speech of suicide, demanding in-
stantaneous lobotomy,
and who were given instead the concrete void of insulin
Metrazol electricity hydrotherapy psycho-
therapy occupational therapy pingpong &
amnesia,
who in humorless protest overturned only one symbolic
pingpong table, resting briefly in catatonia,
returning years later truly bald except for a wig of
blood, and tears and fingers, to the visible mad
man doom of the wards of the madtowns of the
East,
Pilgrim State's Rockland's and Greystone's foetid
halls, bickering with the echoes of the soul, rock-
ing and rolling in the midnight solitude-bench
dolmen-realms of love, dream of life a night-
mare, bodies turned to stone as heavy as the
moon,
with mother finally ******, and the last fantastic book
flung out of the tenement window, and the last
door closed at 4. A.M. and the last telephone
slammed at the wall in reply and the last fur-
nished room emptied down to the last piece of
mental furniture, a yellow paper rose twisted
on a wire hanger in the closet, and even that
imaginary, nothing but a hopeful little bit of
hallucination
ah, Carl, while you are not safe I am not safe, and
now you're really in the total animal soup of
time
and who therefore ran through the icy streets obsessed
with a sudden flash of the alchemy of the use
of the ellipse the catalog the meter & the vibrat-
ing plane,
who dreamt and made incarnate gaps in Time & Space
through images juxtaposed, and trapped the
archangel of the soul between 2 visual images
and joined the elemental verbs and set the noun
and dash of consciousness together jumping
with sensation of Pater Omnipotens Aeterna
Deus
to recreate the syntax and measure of poor human
prose and stand before you speechless and intel-
ligent and shaking with shame, rejected yet con-
fessing out the soul to conform to the rhythm
of thought in his naked and endless head,
the madman bum and angel beat in Time, unknown,
yet putting down here what might be left to say
in time come after death,
and rose reincarnate in the ghostly clothes of jazz in
the goldhorn shadow of the band and blew the
suffering of America's naked mind for love into
an eli eli lamma lamma sabacthani saxophone
cry that shivered the cities down to the last radio
with the absolute heart of the poem of life butchered
out of their own bodies good to eat a thousand
years.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ON THE ROAD- Trecho

“ Em julho de 1947,tendo economizado uns cinquenta dólares da minha velha pensão de veterano, eu estava pronto para ir à Costa Oeste. Meu amigo Remi Boncoeur havia escrito uma carta de São Francisco dizendo que eu deveria embarcar com ele num navio para uma volta ao mundo. Ele jurava que conseguiria me arranjar um lugar na casa de máquinas. Respondi dizendo que já estaria satisfeito com um velho cargueiro qualquer, contanto que pudesse curtir longas navegadas pelo Pacífico e voltar com dinheiro suficiente para me sustentar na casa de minha tia enquanto terminava meu livro. Ele disse que tinha uma cabana em Mill City e que lá eu teria todo o tempo do mundo para escrever enquanto a gente aguardasse a aporrinhacão burocrática antes de pegar o navio. Ele estava morando com uma garota chamada Lee Ann; disse que ela era uma cozinheira maravilhosa e que tudo daria certo. Remi era um velho colega da escola preparatória, um Frances muito louco- nessa época eu não imaginava quanto! Assim, ele aguardava minha chegada para dentro de uns dez dias. Minha tia estava inteiramente de acordo com minha viagem para o Oeste; ela disse que aquilo me faria bem, eu havia trabalhado duro durante o inverno e ficado demais dentro de casa; ela não reclamou nem mesmo quando eu lhe disse que teria que pegar umas caronas. Tudo que ela esperava era que eu voltasse inteiro. E assim, certa manhã, deixando meu grosso manuscrito incompleto sobre a escrivaninha e dobrando pela última vez meus confortáveis lençóis caseiros, parti com meu saco de viagem no qual poucas coisas fundamentais foram enfiadas, e caí fora em direção ao oceano Pacífico com cinqüenta dólares no bolso. “

Jack Kerouac

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Satori em Paris

Satori é uma palavra oriunda do budismo. Quer dizer algo entre revelacão e compreensão súbita e duradoura. O instante em que algo se ilumina para nós, revelando o que de fato, é.
Kerouac, estudioso do zen-budismo, nos conta como foi sua breve estadia na cidade luz e em seguida na Bretanha, perambulando por lugares não muito convencionais. Vai atrás da história de seus antepassados, mas encontra através das pessoas com quem trava conhecimentos, seu satori. Nesse livro ele representa ele mesmo, em seus devaneios. Relata os fatos mais insignificantes em seu diário, como se fossem únicos. Um retrato de sua mente tresloucada.
Foi o primeiro livro que li deste autor e para dizer a verdade, cheguei até o final de raiva. Todo o tempo me perguntei qual era o fundamento dessa viagem e onde estava, afinal, a sonhada iluminacão.
Para entender Kerouac, uma obra é pouco. Primeiro, deve-se conhecer sua vida, as bases daquilo que ele se tornou. Em seguida, ir direto à sua grande obra, que sem dúvida foi On The Road. Deixe este livro por último, quando já estiver mais íntimo, ou correrá o risco de desistir das complexidades Kerouaquianas!

Jack Kerouac




Terminei de ler Satori em Paris, do pai dos Beats, o legendário...quem???
Eu explico. Viajando com minha família e alguns amigos no feriadão de 15 de novembro, comprei no aeroporto esse pocket-book, que li em menos de 48 horas, no carro mesmo. Adoro esses pockets e acho um dinheiro muito mais bem empregado do que aquele gasto em revistas.
Acontece que todo mundo ficou me gozando, por causa do livro. Quem é esse p...a ? O povo amigo acha que ocupo meus bits a toa, com coisas que não são práticas nem geram renda.
Eles até tem certa razão, mas nesse caso, erraram feio. Se você também não sabe de quem se trata, sinto muito, precisa nascer de novo!
Mas vou tentar ser legal, e falar um pouquinho do meu novo-melhor-amigo-autor-favorito-do-momento.
Alguns anos atrás, entrei em contato com os nomes da Contracultura, ao fazer um trabalhinho bacana para a faculdade. Todos faziam referencia ao Kerouac, como pai da "geração beat" , ou Movimento beat, que ocorreu nos Eua, final dos anos 50/início dos 60, que acabou por se tornar um verdadeiro movimento cultural, envolvendo artistas de diversas áreas, que buscavam uma vida mais livre, muitas vezes em comunidades, ou com o pé na estrada. Para entender o que significou esse movimento nos dias de hoje, seria preciso um esforco muito maior do que assistir ao filme Hair, ou A Juventude Transviada, com James Dean. O movimento Hippie se inspirou nos beats. Os Beatles, tiraram daí seu nome.
Depois dos Beats,a América nunca mais foi a mesma. Nem o mundo. Mas nem mesmo Kerouac conseguia explicar sem ser evasivo o significado da palavra Beat.
Sua prosa era espontânea, por vezes parecia uma metralhadora verborrágica. Não respeitava parágrafos, normas gramaticais.Por outras, era pura poesia, pois gostava de escrever ao som de sax. Escrevia para ser lido em voz alta.
Fala da minorias. Dos excluídos. Dos solitários. De uma geracão que rompe com aquilo que lhe é proposto, subverte as regras, busca a liberdade a margem da sociedade. Filhos da classe média buscam a marginalidade, o movimento surge de dentro das famílias abastadas para a periferia.
Aceita os desiguais, entra em contato com filosofias orientais e se deixa influenciar. Em um momento em que não se tinha tanto conhecimento a respeito das drogas alucinógenas, estas também passam a ser usadas como instrumentos de expansão da consciência.
Bob Dylan fugiu de casa, após ler ON THE ROAD, desse autor, assim como nosso cineata Hector Babenco.
Transcrevo, abaixo,um trecho de carta que o Kerouac escreve no México e envia a um amigo, em 1956, ainda quando não havia conseguido publicar nenhum de seus livros. Um ano depois, a lagarta transformar-se-ia em borboleta:

"O que tenho eu? Tenho 35 anos. Uma ex-mulher que me odeia e que gostaria de me ver na cadeia. Uma filha que nunca vejo. Um bolso vazio. Minha própria mãe após todos esses anos de labuta e lágrimas, ainda rala o rabo numa fábrica de sapatos. E eu não tenho um só centavo, nem para uma puta que preste. Maldito seja! Filho da puta! Às vezes penso que a úncia coisa que está pronta para me aceiTar é a morte. Nada nesse mundo parece me querer, ou lembrar-se de mim. Sabe o que acho dessa vida desprezível? Vou abandonar essa história de romances épicos e tentar a concentrar meu talento -se é que tenho algum- no que quer que não seja escrever. O que sei é que existem apenas dor e desespero aguardando por nós todos, especialmente por mim. Sou o mais solitário escritor da América, e vou lhe dizer por quê: porque escrevi seis longos romances desde mar;o de 1951 e nenhum deles foi aceito até agora, agora, AGORA!"

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quase- Luís Fernando Veríssimo

Ainda pior que a convicção do não,

É a incerteza do talvez,

É a desilusão de um quase!



É o quase que me incomoda,

Que me entristece,

Que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.



Quem quase ganhou ainda joga,

Quem quase passou ainda estuda,

Quem quase amou não amou.



Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,

Nas chances que se perdem por medo,

Nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.



Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna.

A resposta eu sei de cor.



Está estampada na distância e na frieza dos sorrisos,

Na frouxidão dos abraços,

Na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.



Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.



A paixão queima,

O amor enlouquece,

O desejo trai.



Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor.

Mas não são.



Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo,

O mar não teria ondas,

Os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.



O nada não ilumina,

Não inspira,

Não aflige nem acalma,

Apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.



Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.



Para os erros há perdão,

Para os fracassos, chance,

Para os amores impossíveis, tempo.



De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.

Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.



Não deixe que a saudade sufoque,

que a rotina acomode,

que o medo impeça de tentar.



Desconfie do destino e acredite em você.

Gaste mais horas realizando que sonhando...

Fazendo que planejando...

Vivendo que esperando...



Porque, embora quem quase morre esteja vivo,

Quem quase vive já morreu.

sábado, 6 de novembro de 2010

Receita de Clericot

Quem me conhece sabe que adoro drinks, de preferência servidos nos copos certos e no maior capricho. O Clericot é perfeito para nosso clima, cheio de frutas (que podem ser adaptadas à estacão)e geladíssimo. Lembra minha viagem à Punta del Este, anos atrás. Bares com mesas e espreguicadeiras na areia,toalhas e almofadas impecavelmente brancas, comidinhas e o sol se pondo. Fazendo hora para esperar o jantar. Quando chega a jarra, mudamos de idéia, não é que podíamos ficar por aqui mesmo e beliscar qualquer coisa? Fiz uma pesquisa rápida antes de postar e descobri que a bebida nào é invencão dos puntadelessenses, mas proveniente da índia. Eu meio que pressentia isso. Ao final da segunda jarra, falávamos fluentemente esse idioma. Mas eis aí a receita, que acata variacões: Ingredientes 1 garrafa de vinho branco bem gelado Frutas ( laranja, pêra, pêssegos, morangos) 1 cálice de licor marasquino, 1 cálice de licor Grand Marnier Champagne bem gelado Cubos de gelo Modo de Preparo Corte a laranja em fatias finas e coloque-as em uma jarra e regue com o Marraschino e com o Grand Marnier. Deixe em repourso por meia hora. Depois corte a pêra, os morangos e os pêssegos descascados em cubos e coloque na jarra. Em seguida despeje o vinho sobre as frutas e misture delicadamente. Adicione o gelo e champanhe. Sirva. A jarra da foto eu peguei na internet. Bom fim de semana!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Janis Joplin "Summertime" (LIVE)

Homenagem do blog aos 40 anos da morte desta maravilhosa cantora! Jane vive para sempre! Summertime Janis Joplin Composição: Dubose Heyward / George Gershwin / Ira Gershwin Summertime, time, time, Child, the living's easy. Fish are jumping out And the cotton, Lord, Cotton's high, Lord, so high. Your daddy's rich And your ma is so good-looking, baby. She's looking good now, Hush, baby, baby, baby, baby, baby, No, no, no, no, don't you cry. Don't you cry! One of these mornings You're gonna rise, rise up singing, You're gonna spread your wings, Child, and take, take to the sky, Lord, the sky. Until that morning Honey, n-n-nothing's going to harm you now, No, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, No, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, No, no, no, no, no, no, no, no, no, Don't you cry, Don't you cry, Cry.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

De Profundis- Oscar Wilde

Oscar Fingal O”Flahertie Wills Wilde foi o dândi inglês mais admirado do final do século 19. Frequentador dos salões mais fechados e ambientes mais exclusivos da alta sociedade , ficou conhecido pelas suas célebres tiradas, em que o modo de vida da sociedade londrina, era sempre alvo de suas observacões ácidas (e engraçadas). Autor de obras memoráveis,dentre as quais “O Retrato de Dorian Gray”, caiu em desgraca ao se envolver em um escândalo sexual, em que a família de um jovem aristocrata, com quem vivera um romance, o processa. Condenado, cumpre dois anos de pena encarcerado, onde sua saúde, reputação e condição financeira se arruínam. De profundis foi escrito na época do cárcere. É uma coletânea de sentimentos contraditórios, um diálogo com o ex- amante, onde desabafa sua decepção e seus rancores. Pretendia ser uma espécie de acerto de contas, onde privado da presença do companheiro, escreve-lhe cartas em folhas de papel cedidas pela prisão, mas as tais cartas nunca chegaram ás mãos de seu amante, sendo-lhes devolvidas em sua saída. Mas a obra vai além disso, revelando também a condição do sistema penitenciário inglês, que vai a partir da publicação dessa obra, passar por uma mudança sistemática. Trata-se, portanto, de uma carta-denúncia. Este livro nos revela o autor, seus pensamentos, sua vergonha, sua revolta e sua surpreendente lucidez. Mas sobretudo, é uma carta de amor, pois que esse turbilhão de sentimentos foi aquilo que o ajudou a manter-se, na medida do possível, íntegro e atuante, durante sua estadia na prisão. Oscar Wilde despido de suas máscaras sociais. Vale a pena.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os Sertões- Euclides da Cunha

A obra mais famosa de Euclides da Cunha, Os Sertões, que trata da Guerra de Canudos, é na verdade, formado por três livros: A Terra, O Homem, A Luta. Seu autor era republicano, abolicionista, cursou engenharia e freqüentou a Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Educado no pensamento positivista, tendo Benjamim Constant como mestre, discípulo da filosofia de Auguste Comte, influenciado pelos ensinamentos de Darwin em “A Evolução das Espécies”, elabora sua obra acatando não só o pensamento linear evolucionista em voga na Europa nos fins do século dezenove, como também os preceitos morais a respeito das raças, onde atribui ao mestiço a alcunha de desequilibrado, raça inferior e considera a mistura de raças diversas, prejudicial. Talvez por isso, seja considerado por alguns literatos como uma obra datada, fruto de uma realidade que só existiu num determinado momento histórico. Seu sertanejo é dicotômico. Segundo Alfredo Bosi, responsável pela apresentação da obra, considera que seus personagens são por um lado valente, por outro supersticioso. Se é generoso, é fanático. Entre outras comparações, que acabam por formar a base para o entendimento do que ocorreu em Canudos, busca compreender o que se passa no pensamento do homem sertanejo, compreender seu messianismo, suas crenças, analisar seus aspectos psicológicos, mas sempre de acordo com a ideologia vigente de seu tempo, o que confere á obra um cunho didático, principalmente ao tentar explicar a dureza do homem sertanejo em paralelo com a descrição do ambiente árido em que vive e que acaba por moldar-lhe o caráter. Por isso, seu livro é dividido em três partes. O autor vincula sua compreensão ao entendimento de sua infra-estrutura geológica, que relata com os pormenores de um cartógrafo, passando pelos acidentes do solo, variações climáticas e finalmente a flora e fauna. Como último elo, nos apresenta seu rude homem. Só então, o autor considera-nos apto à leitura da última parte, que trata exclusivamente da Guerra de Canudos. Trata-se, ainda, de uma obra de cunho histórico, pois seu autor esteve lá, presente no palco dos acontecimentos, como jornalista, até o dia da rendição. As narrativas, portanto, são verdadeiros relatos do massacre que ocorreu. “(...) As infelizes, em andrajos, camisas entre cujas tiras esfiapadas se repastavam olhares insaciáveis, entraram pelo largo, mal conduzindo pelo braço os filhos pequeninos, arrastados”. Eram como animais raros num divertimento da feira. Em volta cruzavam-se, em todos os tons, comentários de toda a sorte, num burburinho de vozes golpeadas de interjeições vivíssimas de espanto. O agrupamento miserando foi por algum tempo um derivativo, uma variante feliz aligeirando as horas enfadonhas do acampamento. Mas acirrou a curiosidade geral, sem abalar os corações. Um dos pequenos -franzino e cambaleante- trazia à cabeça ,ocultando-a inteiramente porque descia até aos ombros, um velho quepe reúno apanhado no caminho. O quepe, largo e grande demais, oscilava grotescamente a cada passo, sobre o busto esmirrado que ele encobria por um terço. E alguns espectadores tiveram a coragem singular de rir. A criança alçou o rosto, procurando vê-los. Os risos extinguiram-se: a boca era uma chaga aberta de lado a lado por um tiro!” Observa-se no último capítulo, denominado “Últimos Dias”, a expressão de espanto de Euclides da Cunha, diante daquilo que ele mesmo considerou um erro histórico, uma barbárie. Ele, que lá estava como militar, correspondente de guerra, repórter, encontrou uma realidade muito diferente daquela que se lia nos jornais, na parte “civilizada” do país. Primeiro porque se deu conta de que o inimigo não possuía condições intelectuais para opor-se á república, nem ser dela a favor. Sua condição miserável estava fadada apenas á sobrevivência diária. Embrutecido pelas condições impostas por seu ambiente, o inimigo não defendia causas políticas e sim de caráter religioso, uma vez que Antônio Conselheiro não passava de um líder messiânico. Tal revelação foi para o autor, um verdadeiro divisor de águas em sua forma de compreender a sociedade em que vivia, uma vez que compartilhava da idéia de “uma canudos monarquista articulada com políticos reacionários ou com os revoltosos da Marinha.” Finalmente, ao descrever, de forma comovente e magistral seus relatos, de uma Canudos que não se rendeu, que foi segundo o próprio autor, um exemplo único em toda a História, não esconde sua vergonha diante dos vencidos. Euclides da Cunha consegue, com esta obra, sedimentar na sociedade brasileira, cuja idéia de civilidade vai beber em fontes e exemplos importados da Europa, a idéia de uma realidade brasileira distinta, com a figura do sertanejo embrutecido, forte, sobrevivente. mostra ao povo brasileiro uma de suas muitas faces, que se pretendiam ocultas. Márcia Taube

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Puedo escribir los versos más tristes esta noche

A Noite Estrelada sobre o Rio Reno (Vincent Van Gogh). Puedo escribir los versos más tristes esta noche. Escribir, por ejemplo:”La noche está estrellada, y tiritan, azules, los astros, a lo lejos”. El viento de La noche gira em el cielo y canta. Puedo escribir los versos más tristes esta noche. Yo La quise, y a veces ella tambiém me quiso. Em las noches como esta la tuve entre mis brazos. La besé tantas veces bajo el cielo infinito. Ella me quiso, a veces yo también la queria. Cómo no Haber amado sus grandes ojos fijos. Puedo escribir los versos más tristes esta noche. Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido. Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella. Y el verso cae al alma como al pasto el rocio. Qué importa que mi amor no pudiera guadarla. La noche está estrellada y ella no está conmigo. Eso es todo. A lo lejos alguien canto. A lo lejos. Mi alma no se contenta com haberla perdido. Como para acercarla mi mirada La busca. Mi corazón la busca, y ella no está conmigo. La misma noche que hace blanquear los mismos árboles. Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos. Ya no La quiero, eS cierto, pero cuánto la quise. Mi voz buscaba el viento para tocar su oído. De outro. Será de outro. Como antes de mis besos. Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos. Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero. Es tan corto el amor, y tan largo el olvido. Porque em noches como esta la tuve entre mis brazos, Mi alma no se contenta com habela perdido. Aunque este sea el último dolor que ella me causa, Y estos sean los últimos versos que yo le escribo. Pablo Neruda, Santiago, 24-11-1923

Bistrôs Paris- Alex Herzog

Chegou pelo sedex minha encomenda tão esperada: o livro de Alex Herzog “Bistrôs Paris-onde comer bem, bacana e barato”. O autor é formado em administracão, mas tem como hobbie a fotografia e as influências culinárias herdadas da avó belga. Em dado momento da vida, largou um ótimo emprego e partiu para Nova York, para estudar fotografia , além de contribuir com fotos e artigos para uma coluna de gastronomia de um jornal local. Que coragem! Na volta ao Brasil, abriu uma escola de culinária e montou o IN-HOUSE Café-Bistrô, no Rio Design Barra. Deu super certo e agora lança seu livro, que já li em um piscar de olhos, pois é leve, divertido e cheio de dicas legais. Dividido por Arrondissements, que são os correspondentes aos bairros parisienses, ele enumera os locaizinhos que valem a pena conhecer. Os bons bistrôs ou brasseries, onde a comida honesta a preços idem, são referenciados. Todo mundo que viaja para lá sabe que sempre existe a possibilidade de cair no golpe dos restaurantes típicos, só para enganar turistas desavisados, ou então de levar um susto ao se deparar com a conta, em um local que não tem estrela michelin alguma. De quebra, ele fotografa, conta as histórias dos estabelecimentos, e ainda dá dicas de passeios pelos arredores e de filmes em que os locais aparecem ou inspiram! Influenciada por Herzog, me dá uma vontade louca de também chutar o pau-da-barraca, ir para lá sem avisar o paradeiro, me enfiar no La Coupole e pedir um choucroute spéciale, só voltando ao trabalho depois de nove dias. Salute!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Lenda do El Dorado

Esta foto eu tirei do acervo do Museu do Ouro, em Bogotá. Ouvi dizer que é a peca mais valiosa do museu, uma vez que retrata com riqueza de detalhes a cerimônia muísca (tribo indígena colombiana) da coroacão do imperador, que acabou por gerar a cobica dos espanhóis, que ouviram falar desse jovem coberto de ouro em pó, que subia a bordo de uma jangada com seus sacerdotes, todos igualmente cobertos de ouro, e jogavam ao rio mais ouro e esmeraldas, antes de mergulhar e sair purificado, na margem, deixando ao rio, as oferendas preciosas. Tal relato gerou a lenda do El Dorado, que se espalhou por diversos locais da América do Sul e provocou a vinda de hordas de exploradores, atrás das famosas minas e cidades cobertas de ouro, que na verdade, não existiam. Os muíscas provavelmente obtinham esse ouro através de trocas, com os povos andinos. Seu uso era meramente cerimonial. Não possuía valor comercial alto, já que pela altitude elevada, os objetos mais cobicados eram as conchas marinhas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O Amor nos Tempos do Cólera

"Florentino Ariza estremeceu: com efeito, e ela própria dissera, tinha o cheiro azedo da idade. No entanto, enquanto andava para seu camarote, abrindo caminho entre o labirinto de redes adormecidas, consolava-se com a idéia de que ele devia ter o mesmo cheiro, só que quatro anos mais velho, e que ela sem súvida o sentira com a mesma emocão. Era o cheiro dos fermentos humanos, que ele perebera nas amantes mais antigas, e que elas tnham sentido nele. A viúva de Nazareth, que não guardava nada para si, tinha dito a ele de modo mais cru:"Já temos cheiro de urubú." Cada um suportava o cheiro do outro, porque estavam à mão: meu cheiro contra o seu. Em compensacão, muitas vezes pensava no caso de América Vicuña, cujo cheiro de fraldas descartáveis despertava nele os instintos maternais, enquanto o inqietava a idéia de que ela não pudesse aguentar o seu: seu cheiro de velho verde." Nessa já consagrada obra, o autor nos relata a espera de cinquenta e três anos, sete meses e onze dias para a concretizacão dessa estória de amor comovente. Enquanto viaja pela beleza das primeiras descobertas, do amor á primeira vista, constrói seus personagens com uma humanidade desconcertante. Revolve seus pensamentos mais secretos, deixando-os desamparados. Mostra a fragilidade da vida, dos percalcos do envelhecer, mas sempre com uma mensagem de esperanca para o amor. Surpreende o leitor, na percepcão de que os sentimentos não acompanham a decrepitude física de seus personagens. Passada em Cartagena,deixa rastros pela rua das janelas, portais e pracas,que recentemente conheci. Relendo a obra de Garcia Marques, aos poucos vou assentando todas as lembrancas, como quem se despede, aos poucos, de um amigo muito querido. Infelizmente, o filme não lhe faz juz. Apesar de Javier Barden e da fabulosa Fernanda Montenegro, ficou muito longe da essência dos escritos. Para quem quiser conferir, o trailer:

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Impressionante passagem dos anos

Subitamente me dei conta de que os anos passam arrastados no início de nossas vidas e do meio para o fim, eles voam. Minha infância parece ter durado décadas. Lembro-me de mim mesma, ainda no berco, embora muitos possam duvidar, asseguro-lhes que é verdade. Lembro de mim ainda no andador. Lembro das botinas ortopédicas. Quando descrevo para meus pais meu primeiro quarto, o cadeirote de comer,minhas roupinhas de cama e velhos brinquedos, ficam boquiabertos. Fatos, lembro detalhadamente de fatos, cheiros, histórias da primeira infancia.As horas se arrastavam então. Passei, em seguida, uma vida inteira no Colégio. Construí a metade de minha vida entre as freiras e os ladrilhos hidráulicos dos pátios e jardins internos. Fora das atividades escolares, eu me resumia a esperar pelo outro dia. A juventude durou menos que as etapas anteriores, quando percebi, já estava cara a cara com o mundo. Não podia me acovardar e fui ter com ele, mais de perto. Casei, mudei e convidei os amigos. Dois anos depois eu já era velha. Eu sei que ninguém acredita, mas a verdade é que envelheci muito mais rápido que a maioria das pessoas que conheco, pois nunca completei, por exemplo, 30 anos. Fui dos 20 aos 40 direto e tenho como provar. Meu pai veio me visitar e foi embora hoje. Percebi que esse fato é hereditário. É bem verdade que a última vez que nos vimos,no ano passado, ele estava com um problema de saúde, mas ainda era relativamente jovem, aos setenta anos. Quase não o reconheci. Falava feito uma pessoa muito idosa, andava com dificuldade e tinha a aparência de sua real idade. Penso que para algumas pessoas, os anos passam de dez em dez, da metade vivida para cá. É o que está se passando agora, conosco.Cada vez que nos revemos, receio não termos nos despedido adequadamente. Márcia Taube.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Gabriel García Márquez (Cien años de soledad)

"O Coronel Aureliano Buendía promoveu trinta e duas revolucões armadas e perdeu todas. Teve dezessete filhos varões de dezessete mulheres diferentes, que foram exterminados um por um, numa só noite, antes que o mais velho completasse trinta e cinco anos. Escapou de quatorze atentados, setenta e três emboscadas, e um pelotão de fuzilamento. Sobreviveu a uma dose de estricnina no café que daria para matar um cavalo. Recusou a Ordem do Mérito que lhe outorgou o Presidente da República. Chegou a ser comandante geral das forcas revolucionárias, com jurisdicão e mando de uma fronteira a outra, e o homem mais temido pelo governo, mas nunca permitiu que lhe tirassem uma fotografia. Dispensou a pensão vitalícia que lhe ofereceram depois da guerra e viveu até a velhice dos peixinhos de ouro que fabricava na sua oficina de Macondo. Embora lutasse sempre à frente de seus homens,a única ferida que recebeu foi produzida por ele mesmo, depois de assinar a capitulacao da Neerlandia, que pos fim a quase vinte anos de guerras civis. Desfechou um tiro de pistola no peito e o projétil saiu-lhes pelas costas sem ofender nenhum centro vital. A única coisa que ficou de tudo isso foi uma rua com o seu nome em Macondo." Trecho extraído do Livro Cem Anos de Solidão, que narra a saga dos Buendía, recheada das histórias ouvidas na infância, por seu autor. Macondo, a cidade fictícia, fantasma, solitária. Habitada por geracões de Buendías e suas incríveis narrativas. Apesar de ter ganho o Nobel com esta obra, Garcia Marques não a tinha como sua favorita. Acreditava que O Outono do Patriarca era sua obra prima, que por sinal, ainda não li. Uma curiosidade: a tradutora, Eliane Zagury, é casada com meu primo Roberto. Só hoje reparei seu nome na capa do livro, e fiquei bem orgulhosa! Valeu, Eliane!

Los Sapatos Viejos- Luis Carlos Lopez

Colombia, 1879 Los zapatos viejos Noble rincón de mis abuelos: nada como evocar, cruzando callejuelas, los tiempos de la cruz y la espada, del ahumado candil y las pajuelas... Pues ya pasó, ciudad amurallada, tu edad de folletín... Las carabelas se fueron para siempre de tu rada... ¡Ya no viene el aceite en botijuelas! Fuiste heroica en los tiempos coloniales, cuando tus hijos, águilas caudales, no eran una caterva de vencejos. Mas hoy, plena de rancio desaliño, bien puedes inspirar ese cariño que uno le tiene a sus zapatos viejos... (Luis Carlos Bernabé del Monte Carmelo López)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

FONSECA ENREDAME VIDEOCLIP


FONSECA Enredame
Carregado por psyque. - Videos de musica, clipes, entrevista das artistas, shows e muito mais. Me desenredas el alma y toda mi vida Me desenredas el tiempo todos los días Pero me encanta enredarme todas las noches contigo Y si estoy loco vas a vivir en un manicomio conmigo Por andarte adorando siempre me enredo Me la paso encontrándote entre mis sueños Y voy buscando el momento para quererte con tiempo Corazón mío como te quiero y como te llevo por dentro Y enrédame de amor mi vida Y hazme un nudo ciego Y entrégame tus pesadillas Q yo t doy mis sueños Y enrédame de amor mi vida Dejemos tanto enredo Y enrédame en tus besos Q yo a tu lado en todo me enredo Con mis ojos cerrados te doy un beso Ay a veces no se si yo te merezco Pero me encanta enredarme Todas las noches contigo Y si estoy loco vas a vivir en un manicomio conmigo Y enrédame de amor mi vida Y hazme un nudo ciego Y entrégame tus pesadillas Q yo t doy mis sueños Y enrédame de amor mi vida Dejemos tanto enredo Y enrédame en tus besos Q yo a tu lado en todo me enredo Y enrédame algo entre los huesos Pa’ no olvidarte ni un segundo si estoy lejos La telaraña de tu recuerdo Se fue tejiendo poco a poco con tus besos (BIS) Y enrédame algo entre los huesos... La telaraña de tu recuerdo.... Hipnotízame un segundo y yo te canto Entre mis bendiciones Esta canción te mando Amor de mis amores Enrédame en tus manos Y enrédame algo entre los huesos... La telaraña de tu recuerdo.... Y enrédame de amor mi vida Y hazme un nudo ciego Y entrégame tus pesadillas Q yo t doy mis sueños Y enrédame de amor mi vida Dejemos tanto enredo Y enrédame en tus besos Q yo a tu lado en todo me enredo

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cartagena de Indias- Pedro Granados

Cartagena de indias Aquí me tienes otra vez disponible al poema. Sentado en un lugar ideal esperando el poema. Un lugar ideal y tranquilo entre el ir y venir de la gente y el poema no viene. En este sábado por la tarde en pleno centro de Cartagena el poema no viene. Entre la calle del Porvenir Y la calle de la Soledad no viene el poema. Y larga y poderosa es la tromba y la trompa del deseo. Y total es la sinceridad. Y auténtica la zozobra. Y contenida la desesperación. Y el poema no viene. Muy alto es el cielo sobre esta ciudad, vasto el mar y anchísimo el continente. Más fácil es hacer poemas sobre el exilio en los Estados Unidos; mucho más fácil la elocuencia de una ciudad como Buenos Aires o Madrid. E incluso ahora que estoy con una maravillosa mujer --la más linda de todas, la más misteriosa, la más cartagenera-- ignoro si ella es precisamente una llave. Todavía no sé si es necesaria una llave para entrar a Cartagena. Quizá el muy alto aire y el muy vasto mar nos hablen --a escondidas-- entre algunas de estas estrechas calles. Quizá Pedro Claver se anime a interpretarnos la soledad y el porvenir de su gente (pienso en Pedro Claver --enfermo y ya gastado-- observando atentamente la bahía). Tal vez algún día un andino del Perú sea asimismo caribe. Es muy fácil hacer poemas sobre el exilio en los Estados Unidos, muy fácil predecir el deterioro y la posterior destrucción. Pero escribir algo digno sobre Cartagena no es tan fácil. No es tan predecible. Bocachica es la pobre y Bocagrande –lógico-- es la rica, y aquí se ubican los burdeles. Pero, a la orden estoy. Con mi corazón andino y mi deseo africano. Alto cielo y vasto mar de la costa por ahí me voy a encontrarlos.

Em Cartagena de Indias

Amigos, eu lhes disse que viria. Nao foi uma viagem como as outras que fiz. Foi vagarosamente preparada. Foi necessário rever a obra de Gabo, para ter certeza de que eu lhe reconheceria as casas, as ruas, as muralhas, os balcoes floridos. Sinto como se toda vida tivesse vivido aqui, como se fora personagem de um de seus romances. Eu poderia ser Candida Erendira, vagando pelos desertos. Eu poderia ser Ursula Buendia, poderia ser muitas outras... Escrevo-lhes do local onde foi o Convento das Clarissas.Vim para isso: para estar no local onde foi descoberto o corpo da menina que inspirou Garcia Marques a escrever O Amor e Outros Demônios. No meio de um bar, que hoje pertence ao Sofitel Santa Clara, há uma passagem. Descendo, lá está a cripta da menina. Fui com um funcionário do hotel, que me mostrou o lugar, enquanto minha mae descansava no quarto da longa viagem. Nem sei dizer o que senti. Minha alma chorou e continuará a fazê-lo por todos os dias em que eu me lembre dessa viagem.

Cartas - Clarice Lispector

“Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Do Amor e outros demönios 2

No ano de 1949, o jovem reporter Gabriel Garcia Marques é enviado ao historico convento das clarissas, onde funcionava um hospital em vias de ser desativado pois acabara de ser vendido para um grupo hoteleiro que pretendia ali instalar um hotel de luxo. Assim, acompanha o trabalho de remocão dos corpos enterrados nas criptas da capela e se surpreende com a abertura de um dos tümulos. Ao primeiro golpe de picareta, surge uma imensa cabeleira ruiva, de vinte e dois metros, de uma menina que lhe lembrou uma lenda muito popular entre os antigos do Caribe. A de uma marquesinha que tinha fama de milagreira, e acabou por morrer acometida pela raiva, apös ser atacada por um cachorro. "Essa marquesinha possuia uma cabeleira que se arrastava como a cauda de um vestido de noiva", segundo o autor. Encantado com a possibilidade de ter encontrado o tumulo da marquesinha, o pai do realismo magico nos brinda com uma linda estória de amor envolvendo lendas caribenhas, crendices africas e o Tribunal do Santo Ofício. Recomendo com muito empenho essa leitura.

Do Amor e outros demönios

"(...)Sierva Maria náo soube jamais que fim tinha levado Cayetano Delaura, por que ele náo voltou com sua cesta de doces dos portais e suas noites insaciaveis. No dia 29 de maio, sem änimo para mais nada, tornou a sonhar com a janela dando para um campo nevado, onde Cayetano Delaura náo estava nem voltaria a estar nunca. Tinha no colo um cacho de uvas douradas que tornavam a brotar logo que as comia. Mas dessa vez náo arrancava uma a uma, e sim de duas em duas, mal respirando na änsia de acabar com o cacho ate a [ultima uva. A guardiá que entrou com a incumbencia de prepara-la para a ultima sessáo de exorcismos a encontrou morta de amor na cama, os olhos fulgurantes e pele de recem-nascida. Os fios de cabelo brotavam-lhe como borbulhas no cranio raspado, e era possivel ve-los crescer." Como parte dos preparativos para minha viagem á Colômbia, comprei dois exemplares desse belo romance de Gabriel Garcia Marques. Um para mim, outro para minha mãe, que me acompanharä nessa aventura em meados de setembro. Ficaremos hospedadas justamente no hotel que funciona no antigo convento de Santa Clara,em Cartagena de las Indias, local onde se passa a narrativa. Nessa viagem tão esperada, pretendo rever os locais que visitei durante as leituras da obra de Gabriel. As ruas de Cartagena, as Igrejas, os fortes, as lendas dos piratas, os tuneis secretos e todos os locais por onde seus fantasticos personagens andaram.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Hino da bandeira

Queria contar uma outra coisa esquisita. Que minha mãe, por não conhecer muitas canções, na verdade, apenas duas, costumava nos ninar com o hino da bandeira. Salve o lindo pendão da esperança.Bem, eu gosto. Em outras ocasiões atacava de: Em treze de Maio na cova da Iria No céu aparece a Virgem Maria... Não é de se admirar que eu e minha irmã tenhamos um gosto musical duvidoso e limitado! Por hoje é só.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O visitante- Márcia Taube

Todos os dias, no fim da tarde, sento-me na soleira dessa casa imaginária, que julgo habitar e aguardo com os olhos aflitos o regresso de alguém que virá de surpresa. Esse alguém sem sexo definido, usa um chapéu de palha e monta um pangaré. Vem de muito longe, me trazendo algum agrado embrulhado em papel almaço e fita de barbante. Nunca avisa. Nunca vem. Esse alguém podia ser meu pai, meu avô morto, minha amiga para sempre esquecida. Não tenho pressa nessa chegada, pois me agrada a longa espera. Enquanto fito o horizonte inexistente, agradeço a Deus por aquilo que julgo faltar em minha vida ser tão pequena coisa. Aguardo, pois, com alegria e esperança, minha querida visita. Márcia.

Meu chatíssimo, queridíssimo e amadíssimo blog

Te confesso que andei desanimada de escrever. Até porque acho que ninguém lê as minhas coisas. Até porque eu sou chata pacas. Minha filha disse que devia por muitas fotos, poucos comentários, falar sobre algum interesse em comum entre esta que vos escreve e a maioria das pessoas. Mas todo mundo que eu conheço curte sair a noite, viajar para lugares descolados que não acho graça, conversar coisas que me cansam. Quase ninguém gosta de viajar só para comer coisas, frequentar sebos, lugarejos ermos,missas gregorianas, espetáculos de clássicos revisitados,feiras, floriculturas e cemitérios, de preferencia sozinha, com meus parentes idosos ou meu marido, que preferia (mil vezes) curtir um bom hotel. Apesar da minha idade, eu sou muito, muito velha.Poucos amigos corajosos, me aturam. Pensei em silenciar este blog. Mas, para o azar de todos (rsrsrs!)mudei de idéia quando recebi um post do Antônio Calloni, agradecendo a reprodução de seu poema. Poucas palavras, delicadas. Do fundo do meu coração percebi que buscava essa inteiração com o mundo.Agora, digam ao povo que fico.

domingo, 2 de maio de 2010

Tenho andado encantada com a cadeira de História Cultural, sonhando com o dia em que terei tempo de sobra para ler todas as obras desejadas, em especial as de Peter Burke, principal historiador cultural de nossa geração, de quem comprei o livro O que é Hist´ria Cultural, da Jorge zahar Editora. Mas o trecho abaixo é de outro livro, e de outra autora,com os devidos créditos ao final da leitura, a quem destaquei por ter amado o seguinte pensamento: " (...)Tanto as sociedades arcaicas quanto as modernas, contemporaneas, tecnologizadas possuem seus sistemas imaginários de representação, a construírem verdades,certezas, mitos, crenças. Todos os homens vivem, diz Boia, ao mesmo tempo, em um mundo prosaico, das coisas do cotidiano, e em um mundo do fabuloso, do desejo e do sonho. O que é certo, assevera Boia, é que nenhuma sociedade vive fora do imaginário e que é uma falsa questão separar os dois mundos, o do real e o do imaginário. Sabe-se, contudo, que nem sempre foi assim e que, por longo tempo,o imaginário esteve relegado ao mundo da fantasia, da ilusão, do não real, da não-verdade, do não-sério. Contribuíram para isso como é possível entender, o advento do racionalismo cartesiano do século XVII, seguido pelo cientificismo das Luzes para prolongar-se pelo século XIX, animado pelo cientificismo, pelo evolucionismo e pelo progresso. Em pleno século XX, tanto o marxismo quanto o pensamento de Sartre colaboraram para acentuar a distinção entre o chamado mundo do real e aquele do não-real ou imaginário. Diante da pureza do conceito, na sua capacidade de realizar abstrações sobre o mundo, Sartre colocava a imaginação como um degrau inferior do pensamento. É, verdadeiramente, com o advento da História Cultural que o imaginário se torna um conceito central para a análise da realidade, a traduzir a experiencia do vivido e do não-vivido ou seja, do suposto, do desconhecido, do desejado, do temido, do intuído. " Trecho extraído do livro: Históra e História Cultural, de Sandra Jatahy Pesavento.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Receita de Cosmopolitan

Comprei em Floripa uma caixa de suco de Cranberry, para fazer esse cocktail,que pretendo preparar e curtir em meu feriado de tiradentes,com a família, revendo Sex and The City! Não se preocupem, as crianças vão tomar coca cola light! Taí a receita: 30ml de vodka 15ml de triple sec 15ml de suco de cramberry 15ml de suco de limão servido em uma taça de martini. Para acompanhar, tapas espanholas... Oba! Viva um da de folga!

Mandem presentes para mim- Antonio Calloni

Não sabia que Calloni escrevia. Hoje eu soube e apreciei ainda mais as suas artes. Para mim, ele é o maior dentre os atores nacionais. O Gerard Depardieu do Brasil. Transcrevo, pois, sua poesia, para dividir a descoberta com os amigos: "Mandem presentes para mim mandem presentes para mim muitos presentes muitas caixas volumosas pequenas com laços ou sem mandem presentes para mim muitos presentes artesanais industriais com afeto com defeitos mandem presentes para mim com embrulhos originais comuns também servem leves pesados perecíveis eternos mandem presentes para mim mandem a espingarda paterna inutilizada o Santo Antonio da mãe a casa eterna da infância as irmãs restituídas a avenida de nome Iraí onde a merda da rima nasceu lugar onde eu cresci mandem presentes para mim do céu do inferno do pai do filho do espírito nem sempre santo mandem presentes para mim mandem caixas e mais caixas mantimentos coisas inúteis (fundamentais para o bom funcionamento da alma) objetos com design moderno um sentimento mandem presentes para mim mandem desespero tempero um par de alegrias alergia eu já tenho mandem um teto solar o sexo da puta mandem dinheiro relógios de ouro mandem meu reflexo uma armadilha mandem a história de Narciso para eu embrulhar o peixe mandem presentes para mim muitas caixas brinquedos bonecos do Star Wars quero viver com sorte! mandem presentes para mim se não mandar eu mesmo compro sem parar que a tristeza é tão indecentemente óbvia quem falar em carência leva um tiro! quem falar em sublimação é um bosta! meu desejo é legítimo! quero vencer a morte! quero vencer a morte! quero vencer a morte! mandem presentes para mim. "

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Tudo o que não sei sobre o amor- Fernando Koproski

"Procura-se uma Musa que goste de brigadeiros, que quando me olhe, olhe um olhar de pétalas imediatas, procura-se uma musa que me lembre luas na noite nublada. Que goste de dormir com chuva, prefira a sombra de uma dúvida ao escuro de qualquer certeza, procura-se uma musa que tenha lábios de halls cereja. Que goste de acordar tarde. Que quando sonhe, sonhe sonhos de valsa, de tango ou de bolero. Procura-se uma musa que enfim queira o que eu quero. Que quando dance, distraída, faça de minha vida um filme, aonde o amor cada cena que a gente aguarda e não espera. Procura-se uma musa que tenha pressa de primavera. Tratar com Fernando Koproski."

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Das verdades

Aos ouvidos moucos,pouco. Aos olhos cegos, pó. Simples como isso. Quem aos porcos pérolas insiste, acaba por passar por dono da verdade. Muitas sendo as verdades, uma só prevalece, De acordo com o interesse de quem a leva. Tudo ou quase tudo é interesse. Muitas são as visões distorcidas. Aguardemos o desenrolar dos fatos, espiando da última frisa. Márcia

terça-feira, 30 de março de 2010

A despedida do meu avô

Eu tive um vô muito legal, que foi como um pai para mim. Não vou contar aqui as inúmeras histórias, porque a bem da verdade, se parecem com as histórias de todo mundo. Apenas direi que fez de minha infancia e parte da juventude um pouco mais felizes.E que morreu um pouco antes de eu completar quinze anos. Isso foi marcante porque foi uma festa sonhada, no clube Piraquê, onde éramos sócios. Minha mãe já havia fechado o buffet e ele também queria que houvesse fogos de artifício. Mas o que ele mais sonhava era dividir com meu pai o momento da valsa, que teria sido a Valsa do Imperador. Eram os anos oitenta e os quinze anos meio que estavam fora de moda, mas para mim e algumas outras, ainda era um momento muito esperado. Claro que nem preciso contar que a festa foi cancelada, mas essa definitivamente não é a história de uma festa que não houve e que afinal, nem lamentei. No mês de julho, invariavelmente, viajava com meu pai e partimos em uma excursão para foz do Iguaçu, Paraguay, entre outros, que terminava em São Paulo. Nos últimos dias dessa viagem comprida, tive medo que meu avô morresse, tentei ligar para casa e não consegui falar. Quando retornei,na sala, junto de minha mãe e avó, estava minha professora de matemática e amiga da família, a irmã Guiomar. Elas estavam tão desamparadas, coitadinhas, que acharam melhor chamar alguém para dar a noticia para mim e para minha irmã. Mas também não era essa a história que valeria a pena entrar em detalhes. Na verdade, o que eu queria mesmo contar é que por muito tempo me atormentou a idéia de que eu não havia me despedido do meu avô. Meu pai já esperava lá em baixo, as malas na porta e ele falava ao telefone com o Padre Neves, dizia que ia fazer essa cirurgia com o Dr Zerbini e em breve estaria novo. Saímos gritando, apressadas, um tiau pra todo mundo, e nunca mais voltamos a ve-lo.Esse último momento, sem abraços, sem um adeus, por muito tempo me entristeceu. Tanto que de certa feita, no metrô, avistei um senhor que se parecia com ele e o acompanhei com o olhar. De costas, ia para a escada rolante da estação Botafogo. O mesmo terno, guarda-chuvas no braço, o jeito de caminhar...Então, antes que a porta do vagão se fechasse, consegui escapulir. Tentei alcançá-lo e foi preciso um esforço, pois era hora do rush, e a multidão andava em sentido contrário. Quando cheguei perto, ele virou e claro, nem se parecia com ele. Também não tive coragem de falar nada, quanto mais pedir um abraço, até porque o sujeito apertou o passo, deve ter achado que eu era perigosa! Só sosseguei na manhã seguinte em que tive um sonho muito real. Eu estava no quarto, dormindo, mas minha irmã não estava lá. Aí meu avõ chegou e me acordou. Então eu pude dar aquele abraço que estava faltando. Mas foi tão verdadeiro, que é difícil de explicar.Também foi estranho o fato de que ele se despediu de mim, me consolou e vestido com o terno de sempre, saiu. Até hoje me recordo do que disse, mas acredito que para a maioria das pessoas seja irrelevante. Importa apenas que de algum modo, apesar da saudade imensa, não houve mais tristeza e meu sonho surtiu o efeito desejado e libertador. Bem, prolixa que sou, resume-se o texto a este último parágrafo.Eu queria contar que meu vô me visitou num sonho e que essa história eu não tirei de nenhum livro.

segunda-feira, 29 de março de 2010

A ARTE DE AMAR - Ovídio

Ovídio, 43aC-17dC



¨ A ELEGÂNCIA

Mas não vá frisar seus cabelos a ferro, nem gastar suas pernas esfregando pedra-pomes.Deixe esses cuidados áqueles que, com gritos à moda frígia, celebram a deusa do monte Cibele. Uma beleza sem aparatos assenta aos homens. Quando a filha de Minos foi raptada por Teseu, este não tinha arranjado sua cabeleira sobre as temporas por meio de grampos. Hipólito foi amado por Fedra, apesar de sua aparencia exterior negligente. Vimos uma deusa se agradar por um hóspede selvagem das florestas, Adonis.É pela simples elegancia que os homens devem agradar. Que sua pele seja bronzeada pelos exercicios no Campo de Marte, que sua toga caia bem e não tenha manchas. Que seu calcado esteja corretamente amarrado, que as fivelas não estejam enferrujadas. Que o seu pé não esteja perdido e nadando num sapato muito largo, que um corte mal feito não enfeie nem arrepie sua cabeleira, que seus cabelos, sua barba sejam cortados por mãos experientes, que suas unhas estejam bem cortadas e limpas, que nenhu pelo saia das narinas, que um hálidto desagradável não saia de uma boca malcheirosa e que o odor do macho, pai do rebanho, não fira as narinas. Todo o resto, abandone ou às jovens lascivas, ou aos homens, que, contra a natureza, procuram o amor de um homem.¨

Publius Ovidius Naso, nascido em 43a.C.foi considerado um dos maiores poetas da Roma clássica, escrevendo sobre mitologia, amor, entre outros temas. Nesta obra,escrita por volta do ano 1a.C, o autor realiza um trabalho de auto-ajuda para os apaixonados da época, verdadeiro tratado sobre técnicas de seducão. No entanto, envolveu-se em um escândalo de natureza sexual, como são os melhores escândalos. Infelizmente, a amante era neta do imperador romano Augusto, que o baniu para o mar negro, e mandou apagar da cidade todas as marcas de sua presenca. No exílio, inconformado com seu destino, após escrever inúmeras cartas sobre seu infortúnio, morre em 17 d.C. Seus belos versos influenciaram Chaucer, Shakespeare,Dante entre outros.
Triste fim para um grande poeta!

domingo, 14 de março de 2010

A Viagem de Shihiro

Ir ao cinema pode muito bem ser um prazer egoísta, em que um saco enorme de pipocas e um big refrigerante zero são as melhores companhias. Adoro freqüentar as primeiras sessões, com as salas ainda vazias, o ar condicionado bem gelado, as poltronas reclináveis e aquele cheiro, que só as salas de cinema tem, misto de carpete novo, jujubas e manteiga .Adoro especialmente o barulho das balas sendo desembrulhadas. Dentre os inúmeros filmes inesquecíveis que vi, destaco A Viagem de Shihiro, que assisti no Botafogo Praia Shopping, no Rio de Janeiro, alguns anos atrás. Nesse desenho animado feito para adultos, emocionei-me como raramente ocorre comigo, em uma cena em especial : Shihiro está sentada num trem, completamente vazio, que viaja em alta velocidade. De repente, o trem para numa estação, as portas se abrem e entra o monstro, que senta-se ao seu lado. Ela não tem medo, continua sentada, com as mãos no colo, tão sozinha e desamparada quanto ele, imenso e medonho. De alguma forma se entendem, ele não a devora, são companheiros de viagem. É um desenho japonês muito bonito, uma fábula de ajuda mútua, fraternidade, busca interior, luta contra nossos muitos medos. Nem preciso dizer que identifiquei-me com a garotinha... Um filme para ser visto assim, sozinha, como a personagem, para uma melhor compreensão do que está sendo mostrado. Quem puder, veja.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Memórias de Paris

A primeira vez que fui a Paris, já tinha quarenta anos. E é realmente estranho escrever assim, porque não me sinto com quarenta anos e parece que estou falando de outra pessoa, mas sim, foi a dois anos atrás. Fui com meu marido, comemorar nosso aniversário de casamento. Depois de tanto tempo, tendo sido relegada em prol de outras prioridades, Paris já era minha velha conhecida de revistas, guias e livros. Mesmo assim, foi emocionante estar diante da Torre Eiffel, e de todos os conhecidos monumentos e famosas pontes que fazem dela a cidade mais bonita que já vi. Foi romantico, com direito a todos os clichês e chavões. Passeios pelo rio Sena, jantar no Tour dArgent entre outros. No entanto, do alto do city tour, percebi que precisava de muito mais do que estava previsto no pacote. Precisava voltar sem a excursão e quando o ônibus passou por Saint-Germain, decidi alugar um apartamento ali. Eu queria morar naquele bairro, comprar no mercadinho, na boulangerie, cozinhar, sentar com calma nos cafés, sem ter que correr para o Louvre e demais atrações. Queria andar me sentindo parte dessa vizinhança. E foi o que fiz. E tendo ido a primeira vez, foi tão mais fácil voltar! Aluguei um apartamento pela internet, incentivada por um blog maravilhoso, chamado Conexão Paris. Escrito por uma brasileira que lá vive, deu todas as dicas necessárias para a minha aventura. Apartamento alugado para dez dias (minhas férias eram muito curtas), resolvi levar as crianças. Afinal, viagem e cultura andam de mãos dadas e eu queria muito proporcionar isso a elas. Minha mãe também resolveu ir conosco e assim fechamos esse grupo familiar. Descrever os dias passados, hoje não seria possível, sinto não ter feito isso na época. Mas estavamos por demais felizes para pensar em algo mais que não fosse andar sem eira nem beira. Comer onde bem entendessemos, visitar sem pressa as atrações. Vimos coisas lindas, almoçamos em jardins de sonho, conhecemos o L orangerie. Fizemos uma excursão para Giverny, onde visitamos a casa e os jardins de Monet. Fomos á Capela da Medalha Milagrosa, eu e minha mãe, assistir a uma missa. Para mim esta foi uma das memórias mais bonitas da viagem. Eu e minha mãe, passeando de braços dados, em Paris. Poder proporcionar a ela este momento, enquanto ambas temos saúde para desfrutá-lo. Tendo tido força para realizar esse projeto, percebi que posso fazer muito mais. Acreditem, fiquei muito corajosa, esperem para ver meus proximos desatinos tornarem-se realidade!

Retrospectiva 2009

Escrever um blog deve ser algo que dê prazer, tanto para quem escreve quanto para quem lê, mas as vezes não acontece assim. Pensei em dar uma parada, repensei algumas coisas, um pouco pressionada com o fato de não estar conseguindo acompanhar por escrito tudo aquilo que vinha praticando e cheguei à conclusão de que tenho praticado muito nessa vida!!! De fato, o ano de 2009 foi abençoado em todos os sentidos e planos, mas que foi uma correria imensa, isso foi! Após um começo de ano de reviravoltas e muito tumulto, nossa vida finalmente entrou nos eixos. Emendei minha comissão no rio Paraguai com uma belíssima viagem a Paris, e nem tive tempo de falar sobre isso! Por causa das viagens precisei estudar feito louca, repor diversos trabalhos para a faculdade e acabei por abandonar o que me dava mais alegria, que era trabalhar no projeto de arqueologia, ainda que involuntariamente. Simplesmente não entrei mais nenhum horário disponível para ir lá e passados dois meses fiquei profundamente envergonhada de todos. Ainda não resolvi essa questão. Mesmo assim havia assumido compromissos com um grupo de teatro, precisei escrever e dirigir a peça, que felizmente, foi um verdadeiro sucesso! Em meio a tantas alegrias, precisei ir ao Rio de Janeiro,pois meu pai não estava bem de saúde e foi bem desgastante essa parte, que prefiro nem comentar aqui. Na volta, trabalho e mais trabalho. O final do ano chegou e eu nem percebi, nas minhas contas ainda esperava pela páscoa... Mas aqui estamos nós, já em 2010 e eu cheia de planos e projetos. Espero poder este ano compartilhar mais calmamente com os amigos, mostrar um lado mais sociável e humano, com menos cobranças e pressões. Penso mesmo em tentar resgatar algumas coisas que fui deixando passar e que hoje já dava como perdidas...