segunda-feira, 20 de junho de 2011

Principais conflitos

De uma forma bem didática, podemos enumerar os quatro principais conflitos que ocorrem no Oriente-Médio:

Israel e Palestinos:

As tensões criadas desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, acarretam ainda hoje ameaças de cisão no território, que já está parcialmente dividido por regiões descontínuas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Atualmente, há um novo conflito na região entre os dois principais grupos palestinos. De um lado, o Fatah (favorável ao entendimento com os israelenses) e Hamas (organização mais radical que sustenta a destruição de Israel). As divergências entre as duas facções chegaram ao conflito armado, que resultou na divisão do território; atualmente, o Fatah domina a região da Cisjordânia, enquanto o Hamas controla a Faixa de Gaza.

Ocupação do Iraque:

Dede 2003, a coalizão comandada pelos EUA e pelo Reino Unido ocupou a região, que atualmente vivencia uma situação de guerra civil entre sunitas e xiitas, com conflitos e atentados suicidas quase diariamente. Há a estimativa de que, desde 2006, ocorram por mês 3 mil mortes causadas pela violência. A situação dos refugiados no Iraque, segundo dados da ONU, já representa um deslocamento de pessoas maior que o desalojamento dos palestinos quando da criação do Estado de Israel.

A derrubada do regime de Saddam Hussein pelo governo norte-americano, teve a finalidade de instaurar um regime democrático na região, mas inúmeros obstáculos podem surgir, inclusive relacionados à própria cultura local que não está familiarizada com a dissociação entre Estado e Religião.

Irã e suspeitas de ameaça nuclear:

A república islâmica do Irã sofre pressões por parte da ONU para que interrompa o seu programa de enriquecimento de urânio, processo que, se realizado com finalidade pacífica, está em conformidade com as normas e tratados internacionais. Se por um lado o governo iraniano, recentemente empossado sob a acusação de ter fraudado as eleições, garante que o processo é realizado para fins pacíficos, por outro, as grandes potências mundiais desconfiam e temem que a real finalidade seja a construção de armas atômicas.

Tensões entre Síria e Líbano:

Líbano e Síria estiveram por muito tempo ligados. A Síria dominou o Líbano por 30 anos e atualmente é acusada de sustentar o Hezbollah, partido político islâmico devidamente legalizado no Líbano, como uma forma de interferir na política libanesa. Em 2006, o Líbano sofreu um ataque violento por parte de Israel, visando atingir o, Hezbollah que é visto pelos EUA e por Israel como um grupo terrorista. Para os EUA, também o Irã estaria ligado à organização terrorista apoiando o Hezbollah. Atualmente uma paz aparente tem se apresentado, mas não se sabe até quando.

O Oriente Médio e o conflito Árabe-Israelense

A diversidade dos povos daquela região talvez seja a grande problemática a ser resolvida na busca da paz. Os povos são basicamente judeus, árabes, turcos, persas e curdos e a maioria segue o Islamismo como religião.
Dentro do Islamismo existem diversas vertentes – seitas – algumas bastante radicais.

 A xiita – considerados mais radicais e em algumas regiões, como o Iraque (entre 60 e 65% da população é de xiitas).

A sunita – corresponde à grande maioria da população (mais de 85%), considerados mais ortodoxos, crêem na legitimidade dos quatro califados que sucederam o profeta e em seus ensinamentos, nem todos parentes de Maomé, que teriam dado origem ao povo. Também diferem quanto à vinculação do líder político à religião: para os xiitas, o líder político deve ser um enviado de Deus, enquanto os sunitas não fazem esta ligação.Os xiitas crêem que após a morte do profeta, apenas o seu primo e genro Ali seria seu sucessor legítimo, sendo o primeiro califa muçulmano, cujos descendentes (também parentes do profeta) teriam originado o povo da região.

Após a morte do profeta, um Cisma foi criado dividindo os fiéis em dois grupos: os sunitas e os xiitas, que divergem quanto à ascendência do povo muçulmano.

Os Curdos: São um grupo étnico originário da região do Curdistão, hoje dividida entre Iraque, Irã, Síria e Turquia, que representa o maior grupo étnico sem Estado no mundo. Sofreram enorme repressão durante as últimas décadas no regime ditatorial de Saddam Hussein. Após a derrubada do regime, ganharam maior autonomia e reivindicam a criação de um estado próprio.

Se não bastassem os enfrentamentos religiosos, outros fatores contribuem para aumentar a tensão no Oriente Médio.
O petróleo, abundante em terras árabes é amplamente utilizado como fonte de energia nos países amplamente industrializados, gerando guerras e conflitos constantes nessa região, desde a criação do Estado de Israel, quando os árabes foram expulsos da Palestina e com a formação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Tal conflito, iniciado em 1948, um dia após a independência de Israel, já deu origem á inúmeras guerras. Em 1975, houve a guerra do Líbano, em 1980, a guerra Irã-Iraque, em 1990, a Guerra do Golfo, quando o Iraque invade o Kuwait.

sábado, 18 de junho de 2011

Amor- Poema árabe

Quando o amor o chamar

Se guie

Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados

E quando ele vos envolver com suas asas

Cedei-lhe

Embora a espada oculta na sua plumagem possa feri-vos

E quando ele vos falar

Acreditai nele

Embora a sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o

jardim

Pois da mesma forma que o amor vos coroa,

assim ele vos crucifica

E da mesma forma que contribui para o vosso crescimento

Trabalha para vossa poda

E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros

que se embalam ao sol

Assim também desce até vossas raízes e a sacode no seu apego à terra

Como feixes de trigo ele vos aperta junto ao seu coração

Ele vos debulha para expor a vossa nudez

Ele vos peneira para libertar-vos das palhas

Ele vos mói até extrema brancura

Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis

Então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete

divino

Todas essas coisas o amor operará em vos para que conheçais os segredos de

vossos corações

E com esse conhecimento vos convertais no pão místico do banquete divino

Todavia se no vosso temor procurardes somente a paz do amor, o gozo do amor

Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez, abandonásseis a ira do

amor

Para entrar num mundo sem estações onde rireis, mas não todos os vossos risos

E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas

O amor nada dá, se não de si próprio

E nada recebe, se não de si próprio

O amor não possui nem se deixa possuir

Pois o amor basta-se a si mesmo

Quando um de vós ama, que não diga 'Deus está no meu coração'

Mas que diga antes 'Eu estou no coração de Deus'

E não imagineis que possais dirigir o curso do amor pois o amor se vos achar

dignos determinará ele próprio vosso curso

O amor não tem outro desejo se não o de atingir a sua plenitude

Se contudo amardes e precisardes ter desejos

Sejam estes os vossos desejos

De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a

noite

De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada

De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor

E de sangrardes de boa vontade e com alegria

De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de

amor

De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor

De voltardes pra casa à noite com gratidão

E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado

E nos lábios uma canção de bem-aventurança.


Extraído do site:
http://www.tendarabe.com/categoria/cultura/arte/literatura/poesias

A Cultura Islâmica

Os árabes assimilaram diversos elementos culturais dos povos vencidos, convertidos ao islamismo por força das batalhas, tais como persas, sírios, bizantinos do Egito, muito embora mantivessem uma unidade linguística, através da qual era possível ler o Livro Sagrado.

Tolerantes, disseminaram os pensamentos dos filósofos gregos, que devido ao paganismo a eles associado pelo cristianismo primitivo, eram ignorado na Europa nos séculos anteriores á invasão árabe.

Quando os Cristão tomaram a Cidade de Toledo, encontraram inúmeras traduções de Aristóteles a quem dedicavam especial apreço, e as disseminaram pela Europa. A ssim, foi através das traduções árabes que o mundo europeu tomou conhecimento dos fundamentos filosóficos gregos, cuja influência bastou para desenvolver o gosto pela filosofia.

AL Kindi, foi o primeiro grande filósofo árabe, no século nove, considerando-se neoplatônico.

Ibn Sina, mais conhecido como Avicena, introduziu no século dez a indução na filosofia e realizou estudos de psicologia que vieram a influeinciar Santo Tomas e Albert Magnus.

Ibn Rush, transmitiu no século doze as idéias aristotélicas ao mundo ocidental europeu, através da aceitação da doutrina da dupla verdade religiosa e espiritual.

Quanto à literatura, em especial a poesia, era amplamente cultivada pelos árabes. Seu mais célebre escritor foi Omar Khayam, que também era exímio conhecedor de álgebra.

Igualmente popular, até nossos dias, é o livro das Mil e Uma Noites, escrito na época do califa Harun AL-Rachid, como um apanhado de contos diversos, tais como Sinbad, O Marujo, Aladin e a Lâmpada Maravilhosa, Ali Babá e os quarenta Ladrões, apenas para citar os mais conhecidos.

Os árabes também empenharam-se nos estudos da trigonometria, bem como outras ciências como a Medicina, a Química, a Astronomia, a Otica. Entretanto, sua ciência estava submetido ao ensino da religião islâmica, não podendo desenvolver-se livremente. Desta forma, buscaram o fantástico por meio de pesquisas cientificas, tal como desenvolver a pedra filosofal através da química ou traçar o destino humano através dos astros.

Os numerais, por nós conhecidos como algarismos arábicos, tiveram provavelmente origem hindu, mas foram por eles desenvolvidos.

Bons navegadores , Utilizaram-se da bússula chinesa, desenvolveram o astrolábio e foram grandes geógrafos.

Através de seu comércio, fizeram a ligação do Oriente com a Europa por via marítima e por meio de suas caravanas, trocando mercadorias diversas, tais como tecidos, especiarias, escravos, porcelanas , entre outros.

Trouxeram do Egito as técnicas de irrigação e as empregaram na Espanha, tornando-se bons agricultores.

Foi na arquitetura , No entanto, que se verificou a maior expressão artística e o grande legado árabe, já que em outras formas de arte, tal como a pintura, viram-se restritos pela proibição do Alcorão em representar figuras humanas e de animais. Esmeraram-se, porém, nas figuras geométricas, cohecidas como arabescos.

A Divisão do Império Árabe

No ano de 750 chegou ao fim a dinastia Omíada com o assassinato de seu último califa, e inúmeros familiares, por seus opositores abássidas, que fundaram uma nova dinastia e fundaram a capital Bagdad. Um dos membros da família da antiga dinastia, conseguiu refugiar-se na Espanha, tornando-se líder político e estabelecendo sua capital em Córdoba.

Deste modo, o Império árabe dividiu-se, tendo sua unidade política repartida, cujas influencias nos campos sociais, político e econômico fizeram-se sentir. Tais divergencias ampliaram-se de tal forma que diversas outras dinastiais e capitais foram criadas no século dezesseis.

Tendo conhecido a glória e alcançado todo seu esplendor no final do século oitavo, quando inúmeras obras literárias tais como o livro das Mil e Uma Noite, foram criadas, no ano de 1053, o califado de Bagdad foi conquistado pelos turcos selúcidas, originários do Turquestão.

Em principio mercenários, esses turcos converteram-se ao islamismo e promoveram uma série de guerras no Oriente Proximo, tornando-se uma verdadeira ameaça para a Cristandade e originando a reação conhecida como As Cruzadas.

Com a tomada de Bagdad pelos mongóis em 1258, chegou ao fim a dinastia selúcida.

No que diz respeito ao califado Omíada que havia se estabelecido em Córdoba, esta tornou-se uma importante cidade, chegando a alcançar 500.000 habitantes , completamente independente em relação aos muçulmanos do oriente . Manteve relações com o Império Bizantino e com o Império Romano –Germânico, extinguindo-se no ano de 1031, com a deposição do último califa, quando dividiu-se em pequenos reinos denominados Taifas.

Sevilha, Valença, Granada, Saragoça, Badajoz, Málaga e Almeria foram importantes reinos, no entanto, tal divisão favoreceu a Reconquista Cristã, através de inúmeras batalhas travadas entre cristãos e muçulmanos. Acabaram totalmente subjugados pelo reino de Aragão e Castela, no século quinze, após a tomada de Granada, última fortaleza muçulmana a cair, em 1492.

A expansão do Islã

Maomé não deixou descendentes homens, portanto foi Abu Bekr, seu sogro quem governou,como califa(substituto) após sua morte, como chefe religioso, militar e político, prosseguindo com a expansão de seus ensinamentos em direção ao norte.


No ano de 634, Omar assumiu e poder e iniciou a primeira fase da expansão islâmica, conquistando, por meio de sangrentas batalhas ,a Palestina, a Siria, Damasco, Jerusalém, Antioquia, além da planície a oeste do Rio Tigre e a MesopoTamia .Chegou em Alexandria e continuou até Cirenaica. Em todos os territórios ocupados fundou bases militares e estabeleceu famílias, no intuito de preservar os ensinamentos sagrados e a pureza da raça.

Em 644, assumiu Otmã e continuou uma segunda fase dessa expansão, embora com menor ímpeto, até o norte da África, tomando o Egito, chegando até às proximidades da Península Itálica. Na Ásia menor, conquistou a Ilha de Chipre.

Em 656, assumiu Ali, neto do profeta Maomé, cujo califado foi bastante conturbado devido a divergências internas, que culminaram num cisma islâmico (chiismo).

Após o califado de Ali, os demais governantes são opositores de seu governo, oriundo da dinastia dos Omíadas, fundada pelo governador da Síria. Tal dinastia, reinou de 661 a 750, teve como capital Damasco e inseriu transformações radicais no legado de Maomé, transformando monarquia de cunho sacerdotal e patriarcal em monarquia leiga e nacional, de tal forma que tornou-se centralizada e hereditária.

Desta forma, a expansão Islâmica alcançou pontos extremos, desde o Rio Indo até a Espanha, cruzando o Gibraltar em 711, sob o domínio de Tarik, que derrotou os visigodos e cruzou os Pinineus . Foi derrotado por Carlos Martelo na batalha de Poitiers, em 732, ao tentar dominar o reino dos francos. Tal vitória foi decisiva para conter o avanço dos árabes sobre os domínios cristãos a oeste. Já a leste , o islamismo também foi contido, na Asia Menor pelo Imperador Leão lll, muito embora tenha havido grandes perdas territoriais para o Império Bizantino, com a expansão Omíada.

As campanhas militares levaram a religião muçulmana por uma enorme extensão territorial, que ia desde a Asia até a Europa Ocidental. Muito embora não tenham conseguido dobrar a resistência Bizantina no mar, devido à superioridade da marinha de Constantinopla, os árabes conseguiram o controle das rotas comerciais para a India e a Ásia Central, com a conquista do Império Aquemênida (Pérsia). Conseguiram, portanto, a hegemonia econômica no mediterrâneo.

O surgimento do Islã

Nos primórdios das civilizações, na grande península situada entre O Mar Vermelho, o Oceano Indico e o Golfo Pérsico, viviam tribos de origem semita, que se dedicavam ao pastoreio, à agricultura e ao comércio. Tais tribos eram independentes e estabelecidas sobre pilares familiares.


Eram politeístas e tinham como centro religioso comum a cidade de Meca, onde havia uma pedra negra, caída do céu, provavelmente um meteorito, digno de veneração, guardado na Kaaba, o santuário local.

O islamimo surgiu na região arábica, atual Arábia Saudita, no ano de 622, tendo no profeta Maomé , descendente direto de Abraão, seu fundador.

Acreditando no monoteísmo, lutou para converter a Arábia à sua fé, agindo como um líder espiritual e político. Maomé entendeu que a unificação religiosa era necessária para fortalecer os laços entre as tribos.

Meca, além de centro de peregrinação para a adoração da Caaba, era um importante entreposto comercial entre a Arábia e terras ocidentais tais como India e China.

No ano de 622, ainda no início da formação do Corão, Maomé e um pequeno grupo de seguidores foram perseguidos por grupos rivais, comerciantes, por defender os interesses de uma parcela da população menos favorecida, sendo obrigados a deixar a cidade de Meca rumo a Medina (Iatreb).

A migração, até hoje venerada e conhecida como Hégira, dá início ao calendário muçulmano.

Em Iatreb, a palavra de Deus revelada ao profeta Maomé conquistou adeptos em ritmo acelerado, sendo que nos dez anos que separam sua fuga e sua morte em 632, Maomé converteu a maioria das tribos árabes, muitas vezes usando a força dos exércitos que formara, impondo aos convertidos, inúmera leis cívicas e morais, reunidas no livro sagrado denominado Alcorão ( O Discurso), que prometia aos bons fiéis o paraíso de Alá.

Na ocasião da morte de Maomé, a maior parte da Arábia já era muçulmana. Um século depois, o islamismo era praticado da Espanha até a China.

Na virada do segundo milênio, a religião tornou-se a mais praticada do mundo, com 1,3 bilhão de adeptos.


As fontes que utilizei para a pesquisa deste e dos próximos posts que tratarão do mesmo assunto, divulgo, de antemão, aqui:

História Geral do Ocidente, Antonio Luiz Porto e Albuquerque.-Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1985. 294p.:Il.

Novo Manual Nova Cultural, 1993 Editora Nova Cultural Ltda.-São Paulo-Brasil.

Além de busca nos sites:
http://www.islam.org.br/
veja.abril.com.br-idade-exclusivo-islamismo-contexto_analise.html

Islã/ Islamismo

Em árabe, Islã é uma palavra que significa submissão ou rendição, no caso, do muçulmano para com seu Deus, denominado Alá ou Allah. Também tem ligação com a palavra Salam, que significa paz.


Seria correto, portanto, afirmar que o Islã não é uma religião, mas o conjunto de povos de civilização islâmica que professam tal religião.

Quando usamos o termo islamismo, estamos nos referindo a religião fundada no início do século sete pelo profeta Maomé. O seguidor do islamismo seria o muçulmano, ou islamita.

Para conhecer o Islamismo

Alguns e-mails que tenho recebido, talvez motivados pela atual questão do Oriente Médio, me deixaram um pouco apreensiva. Isto porque são altamente preconceituosos, e demonstram uma total falta de informação a respeito da religião alheia. Muitos temerosos de que a grande quantidade de imigrantes desta religião acabem por promover a balbúrdia e uma verdadeira revolução de costumes e da ordem social nos países que os acolhem. Acusam o Islã de tentar, através da religião, arquitetar uma tomada do poder, deliberadamente, a nível mundial.
Tais previsões estariam corretas? Antes de julgar, deveríamos tentar voltar nossos olhos para o passado, pois apenas através de um pouco mais de estudo, encurtaremos o caminho para romper esses laços de distanciamento, como se o que hoje ocorre no mundo, não fosse da nossa conta, uma vez que não acontece na nossa porta.
Para formar nosso próprio juízo de valor,  proponho uma viagem juntos ao passado, para conhecer melhor as origens dessa religião, despidos de qualquer julgamento, pois como já coloquei anteriormente aqui, todas as religiões que promovem o amor e a paz, levam à Deus.
Devemos estar atentos, no entanto, às suas deformações, às suas más interpretações, que muitas vezes servem apenas como instrumentos de domínio político. Mas que devem ser diferenciadas de sua verdadeira essência.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Stranger In Paradise

Minha contribuição para o dia dos namorados: esta canção que também fez parte da trilha sonora de O Fantasma da Ópera!

Take my hand
I'm a stranger in paradise
All lost in a wonderland
A stranger in paradise
If I stand starry-eyed
That's the danger in paradise
For mortals who stand beside an angel like you

I saw your face and I ascended
Out of the commonplace into the rare
Somewhere in space I hang suspended
Until I know there's a chance that you care

Won't you answer this fervent prayer
Of a stranger in paradise?
Don't send me in dark despair
>From all that I hunger for

But open your angel's arms
To this stranger in paradise
And tell him that he need be
A stranger no more




-from the musical "Kismet"-based on Borodin's "Polovtsian Dances"
-Words and Music by Robert Wright and George Forrest


domingo, 5 de junho de 2011

I MUSICI VENEZIANI



Para fechar com chave do ouro nossa estadia na cidade de Roma, eu e minha mãe resolvemos assistir à Opera Concerto apresentada pela orquestra e cantores I Musici Veneziani, trajados à moda do século XVIII. A Apresentacão foi na belíssima Chiesa Di San Paolo Entro Le Mura, que fica na Via Nazionale, 16 A.
Desfrutamos de árias de algumas obras de Mozart (Don Giovanni), Rossini (Il Barbieri di Siviglia), Bizet (Carmen), Puccini (Tosca) e Verdi (Nabucco).



E a Igreja foi uma atração à parte, com seus belos mosaicos dourados de clara inspiração bizantina.
Para quem estava voltando de uma viagem à antiga cidade de Constantinopla, foi perfeito!

Assistam e compartilhem também um pouco dessa beleza:

Venus Victrix (1805-1808)



Essa escultura, que representa Pauline, a irmã de Napoleão Bonaparte, no auge de seus 25 anos, ainda envolta pelo esplendor imperial de seu irmão, acabou tornando-se o cartão de apresentação da Galleria Borghese em Roma.

A escultura foi encomendada por seu noivo, Camillo Borghese, em um casamento arranjado que pretendia fortalecer os laços entre a França e o Estado Papal. No entanto, o casamento faliu antes mesmo da obra ser concluída.
O autor da obra, Canova, representou como personagens mitológicos diversos outros familiares do imperador.

Nestra obra, especificamente, Pauline representa Vênus, a vencedora, que segura em sua mão esquerda, o pomo de ouro que recebeu de Paris, após a famosa disputa entre deusas que já tratei anteriormente aqui no blog (ver: A Mitologia por detrás da história).
Parcialmente nua, reclinada em uma chaise, repousa seu braço direito em uma pilha de colchões, exibindo um único ornamento: um delicado bracelete.


Concebida para ser alvo de admirações, a escultura recebeu em 1812, um mecanismo que permitia sua rotação, para ser apreciada dos mais diversos ângulos. A perfeição dos detalhes são a prova do sublime talento de Canova, o que não livrou Pauline do escândalo da corte.
Detalhes da obra:
A escultura foi toda feita de um único bloco de mármore Carrara. Já a chaise longue em que ela se reclina, é feita de madeira pintada de azul e branco.
O dourado das rosetas, folhas e do golfinho, que adornam a chaise, são provenientes de folhas de ouro. A coroa de louros é um típico símbolo da era napoleônica, enquanto que o golfinho faz referencia à deusa Vênus.

Fonte Bibliográfica:
Galleria Borghese 10 Masterpieces.
2009, Gebart S.p.A, Roma.

Gian Lorenzo Bernini




Abalada com a crise da Reforma, a expressão do barroco buscou restaurar o antigo esplendor da Igreja Católica Romana. Colunas adornadas, esculturas e pinturas triunfantes, que retratavam temas bíblicos com a devida dramaticidade.
Um de seus representantes, no século 17, foi o talentoso escultor Gian Lorenzo Bernini, que também se destacou como arquiteto e pintor. Nascido em Nápoles, em 1598, filho de um renomado escultor, cedo apresentou aptidões para as artes e foi introduzido por seu pai aos principais mecenas da época.
No início, copiava os modelos que via pelos corredores do vaticano ou inspirava-se em Michelangelo, mas com o amadurecimento, acabou por desenvolver um estilo próprio, muito embora, muitas vezes, dizia ter inspirado a temática de sua escultura em alguma obra de Rubens.
Acabou tornando-se o principal representante do barroco italiano, tendo em seu currículo obras grandiosas,tais como a Praça de São Pedro, o Castelo de San Angel e o Baldaquim do trono de Pedro, no Vaticano.

O baldaquim:


A Praça de São Pedro no Vaticano:


Além de inúmeras outras obras, também são de sua autoria três fontes, dentre as várias que adornam a cidade de Roma: a Fonte da Barca, dos Três Rios e do Tritão.
Divido com os leitores uma foto da primeira:

sábado, 4 de junho de 2011

David de Bernini

A versão de Bernini para David, executada entre os anos de 1623 e 1624, em minha opinião, supera em muitos aspectos a conhecida obra de Michelangelo.
Michelangelo presenteou-nos com um majestoso David, após derrotar o gigante Golias. Esplendorosamente esculpido de acordo com os ideais artísticos do Renascimento italiano, reverencia a harmonia das formas humanas, o rosto clássico, de beleza incontestável, nos transmite uma sensação de serenidade e reflexão após o dever cumprido.

Já a versão de Bernini nos intriga pela representação gestual. Suas feições exprimem a tensão frente a um imenso esforço físico.




Seu corpo está recurvado, pronto a lançar a pedra que atinge o gigante Golias na testa. Bernini consegue captar este exato instante.


Aos pés de seu David está a harpa, com a qual ele cantará suas vitórias, e ofertará a Deus seus lindos salmos.


Dica: Vale a pena uma releitura do Antigo Testamento, valiosa fonte de estudos da antiguidade.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Apolo e Dafne

A segunda obra que mais gostei foi Apolo e Dafne, esculpida entre os anos 1622 e 1625 e ocupa sozinha o centro de uma grande sala na Galleria Borghese. A melhor palavra para descrevê-la estaria num meio termo entre a poesia e o encantamento.


Antes de Bernini, nenhum outro artista ousou esculpir a estória de Apolo e Dafne em mármore devido a sua complexidade.

Em seu livro "Metamorfose", Ovídio nos conta do amor de Apolo pela ninfa, após uma certeira flechada de Cupido. Mas Dafne representa a castidade e ao sentir sua impetuosa presença, invoca auxílio divino, transformando-se em uma árvore. Em um loureiro.


O instante dessa metamorfose é representado pelo mestre. A ninfa está transfigurando-se frente ao olhar do expectador e de um perplexo Apolo, em pleno movimento de captura. Seu dorso está parcialmente recoberto pelo tronco de uma árvore, enquanto seus dedos das mãos transformam-se em galhos, seus pés viram raízes e seus cabelos folhagens. O drapeado dos tecidos reforçam a idéia de movimento.


A obra não deixa espaço para moralismos, é eminentemente sexual, inapropriada diria, para decorar a vila do Cardeal Borghese e competir com as inúmeras outras esculturas que adornam a residência.
No entanto, foi considerada como sendo o retrato do triunfo da castidade sobre o desejo...


Em sua base, inscrições de versos latinos de Matteo Barberini a respeito dos prazeres carnais.

Curiosidades a respeito da obra:
A figura clássica de Apolo foi inspirada no famoso Apollo Belvedere dos museus do Vaticano.

Um único bloco de mármore foi utilizado para esculpir as duas figuras e a base. No entanto, Bernini teve um colapso nervoso ao perceber pequenas imperfeições na pedra, que apareceram enquanto ele estava trabalhando. Pequenas manchas escuras podem ser observadas na escultura, uma delas bem notável no nariz da ninfa.

O Rapto da Proserpina

Esculpida entre 1621 e 1622, a obra chama atenção pelo seu tamanho, destacando-se das demais, no centro de uma das salas.



Aproximando-nos, temos a impressão de que não é possível que seja feita de mármore, uma vez que as impressões táteis dos personagens saltam aos olhos. A carne de Proserpina é marcada pelos dedos de Plutão, na tentativa do rapto. Parece macia.


Plutão, figura rude e embrutecida, usa em sua cabeça a coroa de rei do mundo subterrâneo e tem seu rosto empurrado, com força, pela jovem, que se debate.


Suas forcas se contrapõem, dirigindo-se a lados opostos. Seus corpos, seminus, formam dois semi círculos. Aos pés, o cetro de duas pontas. Cérbero, o Cão de três cabeças, que nas obras de Dante Aligheri olha em três direções diferentes, guarda as portas do inferno e funciona como suporte para o grupo.

Bernini retrata a estória contada por Ovídio, em Metamorfoses:
Enquanto Proserpina colhia flores com suas damas de companhia em um bosque, Plutão, rei do submundo, observando sua beleza, fica encantado e resolve raptá-la. Este é o momento retratado pela escultura: Proserpina luta para livrar-se de seu raptor, chora, enquanto pede ajuda às suas amigas e socorro à sua mãe.
Ceres desce aos infernos para buscar sua filha, e acaba por fazer um acordo com Plutão: concorda em permitir que ele fique com sua filha durante seis meses do ano, conquanto que nos outros seis, Proserpina pudesse passar com ela na terra.
Essa lenda representa um mito antiqüíssimo, associado ao círculo da vida, da fertilidade, da mãe terra, das estações do ano.
Quando Proserpina retorna à superfície, a natureza desperta, coberta de flores e frutos. É primavera e verão. Mas as estações são efêmeras, e o escultor faz alusão ao mito da ressurreição, conectando-o ao de Proserpina.
Ao descer ao submundo, a terra volta adormecer, entra o outono e o inverno.
Na mitologia grega, Plutão era Hades e Proserpina, Perséfone.

Observações sobre a obra:
Na base da escultura, versos latinos que parecem ter sido ditos por Proserpina, alertando a respeito da efemeridade das flores da terra.
De acordo com os críticos, Bernini tirou sua inspiração de uma estatueta de Pietro da Barga, sobre o mesmo tema. Há quem diga que foi realmente um plágio...

A Galleria Borghese


Em um pequeno palácio construído entre os anos de 1613 e 1616, para o cardeal Scipione Borghese, hoje funciona este belíssimo museu, que é um de meus preferidos.
No ano de 1901, foi comprado pelo governo que o transformou em um parque público, abrindo seus jardins à visitação.
Pequeno, guarda a maior coleção de arte privada do mundo. O cardeal, que era sobrinho do papa Paulo V, tinha uma verdadeira fixação em obras de arte, não medindo esforços para adquirí-las, nem que para isso fosse necessário o uso da violência. Há relatos de que ordenou inclusive a prisão de uma pessoa, que se negava a vender-lhe A Caça de Diana.
Caravaggio, Rubens, Rafael, Leonardo da Vinci... estão todos lá bem ao alcance de nossos olhos!
Mas foram as esculturas de Bernini que mais me chamaram a atenção durante a visita. Algumas eu já conhecia de livros, mas observadas de perto ganharam uma outra dimensão. Saí de lá boquiaberta, e vou comentar nos próximos posts as minhas favoritas.

Como não é possível fotografar lá dentro, as imagens foram retiradas do google images, enquanto que para a redação dos textos, me utilizei dos dados contidos em um dos catálagos que estavam à venda na própria galeria:
Galleria Borghese 10 Masterpieces.
2009, Gebart S.p.A, Roma.

Para quem estiver em Roma e desejar visitar a galeria, saiba é preciso agendar a visita, que deve ter a duração de duas horas por grupo. O último grupo entra às 17:ooh em ponto. As reservas podem ser feitas pelo tel (00XX39-06) 3-2810.
Abre de terça a domingo, no horário que vai das 09 às 19 horas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Visões de Roma

Nem de longe é minha intenção, com este blog, direcionar o leitor para este ou aquele passeio. Até porque Roma é uma cidade que a cada visita, se apresenta de uma maneira, afinal, são muitos séculos de história.
Também porque qualquer guia já publicado faz isso. Mesmo na internet deve ser fácil pesquisar roteiros do tipo receitas de bolo.
Eu proponho apenas andar a pé o máximo. Se possível, de posse de seu Roma Pass, que lhe garante entrada sem filas em duas atrações, inteiramente gratuitas e desconto nas demais, por três dias consecutivos. E ainda vale como bilhete de transporte nos ônibus e metrôs. Sugiro usar a dica que eu experimentei,tirada do blog Viaje na Viagem de Ricardo Freire: utilize o pass gratuito nas duas atrações mais caras que são o conjunto Coliseu-foro palatino e a Galleria Borghese. Esta última precisa ser reservada por telefone, peça no hotel.
Como o Vaticano não faz parte do Pass, deixe para o quarto dia, quando ele já tiver acabado.
Agora chega! Passemos às imagens...














Ristorante La Scala

Bem no coração do Trastevere, a poucos minutos de caminhada de nosso hotel, encontra-se o melhor nhoque que eu já comi na minha vida. Aliás, se me perguntarem qual é o meu prato favorito, eu diria que é o maravilhoso nhoque com lascas de trufas negras que provei no La Scala. Não tem nada igual, acreditem.


Derrete na boca, tem um sabor amanteigado e suave, e a combinação com as trufas não dá para descrever, só provando. Gostei tanto que voltei lá também no último dia para repetir o prato.
O restaurante, em si, não tem nada demais. É simples, o serviço eficiente e atencioso. Não é demorado, nem barulhento. Aliás, um barulho que gosto muito é o discreto estampido de uma garrafa de vinho sendo aberta. E nesse quesito, o ambiente é farto.
De entrada, pedimos um alcachofra à romana e um prato de ostras. Estavam frescas e maravilhosas!Olha elas aí:


Sobremesa? Não devíamos, mas copiamos o pedido da mesa vizinha, que nos encheu a boca dágua: mil folhas de chocolate com peras. Um pecado, poxa!




Para conferir: http://www.ristorantelascala.it
End:Piazza della Scala 58/61, Trastevere, Roma.

Hotel Campi de' Fiori em Roma


Quando percebi que na volta de minha viagem à Turquia, a conexão em Roma me deixaria esperando no aeroporto de por mais de cinco horas com mamãe, negociei com a operadora o fechamento da parte aérea para quatro dias depois, de modo a poder fechar com chave de ouro nossa aventura.
Achei que minha mãe ia ficar contente com essa surpresa, afinal ela poderia rever a cidade que conhecera na infância e entrar em alguns locais que tenho certeza que meu avô não a levou.
Só que a parte terrestre que me ofereceram era um daqueles hotéis de rede, amplos e confortáveis, nos arredores da cidade. Então, eu preferi fechar direto pela internet um hotel menor e sem estrelas, localizado próximo ao centro histórico, de onde eu poderia percorrer a pé toda a cidade.
Pesquisando, comparando preços e localizações, encontrei o Hotel Campi de' Fiori e a julgar pelas fotos do site, era justamente o que eu estava precisando...


Pequeno, funcionando em um prédio muito antigo (século XVII), contava com um pequenino elevador e era próximo às principais atrações . Dava para ir andando ao Pantheon e também ao Trastevere, onde pretendíamos jantar na primeira noite. Ficava juntamente em frente à praça onde Giordano Bruno fora queimado pela Santa Inquisição. Durante a semana, ali funciona uma feira, durante o dia. À noite, os diversos restaurantes e barzinhos ficam repletos de gente.


Me encantei pela saleta de café da manhã, que na verdade, era servido numa pequena e charmosa biblioteca. Este detalhe realmente foi o fator decisório. Não me decepcionei.



Chegamos abarrotadas de malas e sacolas, pois nos descontrolamos um pouco na Turquia. Fazia frio e a sensação que tivemos foi de estarmos voltando para casa. Na recepção nos sentimos acolhidas, pela simpatia dos atendentes e pela presença de uma agradável lareira, na salinha de estar próxima.


O quarto era bem pequeno, decorado à moda veneziana, com dossel, tecidos nas paredes, molduras douradas, cortinas de veludo com franjados, móveis de época.
Mas também contava com alguns confortos modernos, tais como frigobar, TV de tela plana, ar condicionado e box com uma super ducha. Além disso, as toalhas de banho e roupas de cama eram de muita qualidade.


Durante toda a estadia o staff do hotel nos apoiou, fornecendo mapas, reservando ingressos para concerto, passeio no Vaticano, e indicando o melhor restaurante que provamos na cidade (próximo post).
Fica aqui a dica, sem esquecer de mencionar que consegui um excelente desconto reservando pela internet, já que os preços despencam no inverno europeu.

End:Via del Bicione, 6.
End virtual:http://www.hotelcampodefiori.com

O Segredo de Frida Kahlo


Para aqueles que apreciam a arte de Frida Kahlo, ou o colorido da cultura mexicana, expressos não apenas nas pinturas, mas também na culinária, indico este livro.
Francisco Haghenbeck, ao escrever a obra, nos aproxima do universo da pintora, através de uma viagem desde sua infância, passando pelo acidente que mudou sua vida, seu encontro com o muralista Diego Rivera, seu engajamento na causa marxista, as amizades ilustres e finalmente, a relação íntima e estranha que tinha com a morte.
Traça uma linha do tempo, em que seus retratos pouco a pouco vão nos contando a respeito de seus sofrimentos. De quebra, nos oferece as receitas com que Frida encantava seus convidados, vivos e mortos.
Uma obra agradável e de fácil leitura, para uma tarde ou duas.

A Era dos Impérios- Capítulo Três

A ERA DOS IMPÉRIOS

Neste capítulo o autor justifica o título da obra com duas colocações: a primeira, relatando que nunca em outro período histórico houve a quantidade de governantes que se auto-intitulavam imperadores, ou cuja diplomacia ocidental acreditava merecer tal título.
Era o caso da Turquia, da Alemanha, da Áustria, da Rússia e da Grã-Bretanha. Além dos imperadores orientais, oriundos da China, do Japão, da Pérsia, do Marrocos e da Etiópia, sendo que os dois últimos mais considerados por cortesia. E nas Américas, até o ano de 1889, sobreviveu o imperador do Brasil.
E num sentido mais aprofundado, foi a era em que um novo tipo de império colonial se estabelecia. Entre os anos de 1880 e 1914, houve uma divisão formal do mundo, em territórios de dominação política. Na verdade, uma parcela considerável de continentes tornou-se colônia de meia dúzia de Estados.
Os favorecidos foram, evidentemente, os pertencentes às partes mais econômica e conseqüentemente , militarmente desenvolvidas: Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica, EUA e Japão.
Às custas dos países que ficaram à margem da Revolução Industrial, tais como Portugal e Espanha, antigos impérios europeus. Os despojos do Império Espanhol nas Américas e no Pacífico, ficaram a encargo dos EUA. Foi o caso de Cuba, Porto Rico e das Filipinas.
A maioria dos impérios asiáticos permaneceram independentes, muito embora, tenham sido delimitados como “zonas de influência”, devido ao seu desamparo político e militar. Algumas, como a Pérsia, sofreram administração direta, de acordo com o acordo anglo-russo de 1907.
A África e o Pacífico foram inteiramente divididos, com raras exceções: a Etiópia (que conseguiu resistir ao mais fraco dos Estados imperiais: a Itália), o Marrocos e a Libéria, considerada insignificante.
A primeira, teve seus territórios distribuídos entre os impérios : britânico, francês, belga, alemão, português e em menor escala, Espanhol.
Já o Pacifico foi fatiado entre os britânicos, franceses, holandeses, norte-americanos e alemães. Uma pequena parcela coube ainda ao Japão, não restando nenhum Estado independente.
Na Ásia, a Birmânia foi anexada ao império Indiano, que estava sob o domínio inglês, afirmando seu poderio nas áreas do Tibete, Pérsia e Golfo Pérsico. A Rússia avançou sobre a Ásia central, sobre a Sibéria e sobre a Manchúria.
Já os holandeses garantiram um controle mais efetivo nas regiões mais distantes da Indonésia.
Apenas uma parcela do planeta foi poupada: a extensão do continente americano. Isto ocorreu porque, na verdade, estava mais do que claro que, com exceção dos EUA, elas eram completamente dependentes do mundo civilizado. Por isso, foi a única região do globo em que não houve disputas entre as grandes potências.
Nem aos EUA, interessou a conquista das diversas repúblicas sul-americanas que co-existiam na década de 20, apenas o Canadá, algumas ilhas caribenhas, bem como parte deste litoral.
O autor considera que a criação de uma economia global única, foi o acontecimento de maior relevância do século XIX. Mas que a Era dos Impérios não se limitou aos aspectos econômicos e políticos, mas também culturais. Por meio do exemplo, os países dominados sofreram transformações sociais, ocidentalizando-se.
A ocidentalização, longe de ser vista como um aspecto negativo, foi uma proposta considerada efetiva pelas elites de governos diversos, como meio de sobrevivência e modernização. Foi o caso do Brasil, do México, e da Turquia (em seus estágios iniciais da Revolução Turca).
A ideologia predominante era o positivismo, tendo em Auguste Comte (1798-1857) seu principal mentor. O autor coloca que para as minorias ocidentais de vários tipos, o mais poderoso legado cultural do imperialismo foi essa: uma educação nos moldes ocidentais.
Em contrapartida, o mundo dependente ofereceu ao dominante o exotismo. O ocidente interessou-se imensamente pelas formas de espiritualização orientais. Também no campo das artes, foram aceitas as expressões dos dominados em pé de igualdade. Tanto isso é verdade que vemos influência das artes japonesas nos pintores franceses (como Monet), quanto nos defensores da art-dèco.
Mesmo as artes consideradas mais “primitivas” como era o caso das oriundas da Oceania e Àfrica, eram consideradas de primeira grandeza.
Mas nem tudo foram vitórias para as classes dirigentes. O Imperialismo gerou um tempo de incertezas, uma vez que nas metrópoles prevaleceu um sistema político eleitoral, democrático, enquanto que nas colônias, governava a autocracia. Além disso, uma pequena minoria de brancos efetivamente impunha-se à uma imensa massa destinada à inferioridade: assim preconizava os novos conceitos da eugenia.
O Império começou a ficar vulnerável, de dentro para fora. Imenso, desigual, global. A Europa, que vivia dos rendimentos do trabalho das denominadas “raças inferiores”, pouco a pouco preparava o terreno para a emancipação política e mais tarde, econômica, destes.

A Era dos Impérios- Capítulo Dois

UMA ECONOMIA MUDANDO DE MARCHA

Neste capítulo, Hobsbawn traça um panorama da economia mundial, bem como de seus aspectos políticos e sociais indissociáveis, da era que ficou conhecida como a “Belle Èpoque”.
Discute a depressão da economia mundial ocorrida no ano de 1889, contrapondo-se a essa idéia, demonstrando que neste período a produção de ferro duplicou, a de aço, tida como um indicador do conjunto de industrialização, multiplicou-se por 20 e houve um incremento considerável nas taxas de comercio internacional.
Com relação à América Latina, coloca que foi justamente nesta fase que os investimentos estrangeiros atingiram níveis assombrosos, além do aumento do numero de imigrantes.
No entanto, disserta a respeito d a opinião de historiadores que seguem a linha socialista que, de uma maneira geral, aguardavam um a invasão de imigrantes que ameaçariam a continuidade da civilização, apostando no colapso do capitalismo. Além da visão dos economistas e empresários que temiam a prolongada depressão de preços, juros e conseqüentes lucros.
A agricultura foi o setor que mais sofreu nas décadas de depressão, uma vez que a produção, que havia aumentado nas décadas anteriores, acabou por inundar o mercado mundial de excedentes.
A forma encontrada para a defesa da economia foi a formação de cooperativas, que rapidamente se multiplicaram em diversos países, bem como a emigração, considerada uma válvula de escape para minorar as pressões sociais, que poderiam acabar em rebeliões.
Com relação ao setor empresarial, a inflação foi favorável, pois aumentou a taxa de lucros e consequentemente , o número de concorrentes. O mercado de massa começou a desenvolver-se, embora muito mais vagarosamente do que o crescimento do número de novos produtos industriais.
Outra dificuldade encontrada foi a contraposição dos preços instáveis com as altas e baixas ditadas pelo mercado e os custos de produção estáveis, entre eles os investimentos com os equipamentos e o pagamento de salários.
A medida tomada em relação a depressão dos preços, lucros e taxas de juros, foi a prática do bimetalismo, ou seja, basear o sistema mundial de pagamentos tanto no ouro como na prata, abundante nas Américas, já que o ouro encontrava-se cada vez mais escasso. Tal prática, não era vista com bom olhos pelos grandes banqueiros, empresários e governos de países centrais do capitalismo.
Além disso, a política do protecionismo começou a ser praticada por governos que cederam aos apelos de grupos influentes, que buscavam proteger seus produtos nacionais, da concorrência dos estrangeiros. Também esta prática foi de encontro aos interesses óbvios da Grã-Bretanha, cuja economia era majoritariamente orientada para a exportação de produtos industrializados, além de serviços financeiros e de transporte.
Durante seu processo de industrialização, a Inglaterra relegou ao segundo plano sua agricultura, tendo se tornado um dos principais mercados consumidores de produtos primários e agrícolas. Este foi o ponto crucial, em que o autor coloca que a base do poderio econômico britânico se fez através da simbiose com a parcela “subdesenvolvida”do mundo.


Assim, a industrialização e a Depressão transformaram-se em grupos de interesse conflitantes, de tal forma que a concorrência deixou de existir apenas entre as empresas e estendeu-se às nações.
No decorrer do século XIX, as mais remotas regiões do planeta foram se transformando, na medida em que as práticas do capitalismo não reconheciam fronteiras e a política do liberalismo econômico era prontamente apoiada pela Inglaterra.
Com relação às práticas protecionistas, o autor credita sua existência à uma situação de concorrência econômica internacional.
Hobsbawn analisa seu impacto nos diversos setores, chegando à conclusão de que o protecionismo não comprometeu seriamente o crescimento, ao contrario, incentivou diversas indústrias nacionais a produzir para seus mercados internos e ajudou, ainda, a ampliar a base industrial do mundo.
Em seguida, ele relata as tentativas de ampliar as margens de lucro, através da formação de trustes e cartéis, além das fomas de “administração científica”que iam surgindo, uma vez que os tradicionais métodos de administração foram considerados empíricos e ultrapassados.
O “Taylorismo”propunha maximizar o potencial de trabalho dos operários através do isolamento do trabalhador de seu grupo, transferindo o controle do processo para os agentes da administração, além de uma divisão sistemática de cada processo em unidades cronometradas, sem mencionar os sistemas variáveis para o pagamento do salário, baseado no percentual de produção individual.
O surgimento do imperialismo foi outra saída plausível para os problemas empresariais. Tanto a pressão do capital à procura de investimentos lucrativos, quanto a produção crescente à procura de mercados, incentivaram as políticas expansionistas. Incentivaram o neo-colonialismo.
No ano de 1990, surpreendentemente, apenas um ano depois da Grande Depressão, a economia mundial foi assolada por um “boom” econômico, que teve como pano de fundo justamente a “Belle Èpoque”, como ficou conhecido o período que durou até a primeira Grande Guerra.
Alguns economistas buscam justificar este fenômeno com a descoberta de reservas de ouro na África do Sul e no Canadá. Outros, especularam sobre a existência de “ondas largas”, na qual o capitalismo flutuaria, de tempos em tempos.
De qualquer forma, as previsões marxistas a respeito da impermanência do capitalismo precisaram ser revistas.
Mas mais importante do que as justificativas, são as conseqüências deste período de euforia econômica: a redistribuição do poder econômico mundial, com o relativo declínio britânico e emergência dos EUA e Alemanha no cenário mundial.
A rivalidade entre os Estados foi uma característica marcante dessa época, bem como as relações experimentadas entre as parcelas desenvolvidas e subdesenvolvidas do planeta.
Mas a situação da Inglaterra permaneceu inalterada enquanto centro de operações das transações comerciais internacionais, exportando como nunca seus produtos industrializados para o mundo, enquanto importava produtos primários das nações subdesenvolvidas, estabelecendo, sob certa ótica, um meio de “equilíbrio global”.
Seu relativo declínio industrial serviu, portanto, para reforçar ainda mais seu poderio econômico.
Outras características da economia mundial do período foram: a revolução tecnológica, o domínio das indústrias produtoras de bens de consumo pelo mercado de massa, o crescimento acentuado do setor terciário da economia (trabalhadores de lojas e escritórios) e o avanço do coletivismo em detrimento da iniciativa individual.
Com relação a esta última característica, o aumento do papel do governo no setor público, acabou por causar um retraimento da economia de livre concorrência, gerar políticas de reformas voltadas para o bem estar social e ainda favoreceu o crescimento da indústria bélica.
Os anos de 1875 a 1914 foram um tempo de crescimento e transformação para a parcela “desenvolvida”do mundo. Muito embora a miséria rondasse a maioria dos trabalhadores, que tinham na abundancia de oferta de trabalho apenas um paliativo para suas dificuldades, as classes médias perceberam o período como uma época dourada, principalmente após os difíceis anos de pós-guerra.

A ERA DOS IMPÉRIOS (1875-1914)




A ERA DOS IMPÉRIOS (1875-1914)
AUTOR: ERIC J. HOBSBAWN

Neste livro, o autor aborda o período histórico compreendido entre a Revolução Industrial e a Primeira Guerra Mundial, elencando as transformações que ocorreram no mundo, desde as sociedades industrializadas, denominadas “desenvolvidas”, em contraposição às demais.

CAPÍTULO 1
A REVOLUÇÃO CENTENÁRIA
Em 1880, no centenário da Revolução Francesa, o mundo já era praticamente todo conhecido e mapeado. O mundo estava pouco a pouco tornando-se global . A ferrovia e a navegação a vapor haviam encurtado as distancias intercontinentais. O telégrafo transmitia informações de uma parte do mundo a outro, em poucas horas. O mundo era densamente povoado, em primeiro lugar pelos asiáticos e em segundo lugar pelos europeus.
No entanto, cada vez mais as realidades eram distantes e caminhavam para a divisão das sociedades entre industriais, consideradas desenvolvidas e as demais.
Hobsbawn coloca que a defasagem entre o Primeiro mundo e os demais e o Terceiro mundo começou cedo, e aponta a tecnologia como uma das principais causas dessa diferença, uma vez que a acentua de forma econômica e política. A revolução Industrial favorece a desigualdade, na medida em que empresta um maior poderio bélico às nações mais economicamente favorecidas, determinando qual posição ocupará nesse sistema global.
Além disso, relata que o Primeiro Mundo era portador de uma história comum e possuía semelhantes estágios de desenvolvimento econômico, apesar das diferenças internas, enquanto que o Terceiro e o Segundo Mundo, não possuíam laços históricos, nem culturais, nem institucionais, nem em sua estrutura social se assemelhavam.
Mais difícil ainda era estabelecer limites concretos entre as fronteiras destes Estados. A Europa, era constituída não apenas pelas regiões que a formavam, mas principalmente levando-se em conta o desenvolvimento capitalista dessas regiões. Englobava as regiões que tiveram um papel importante durante o desenvolvimento do capitalismo, os primeiros conquistadores ultramarinos (representados por Portugal e Espanha) e os descendentes do Império Romano.
Grandes extensões da Europa ainda estavam fora do eixo de desenvolvimento capitalista, gerando um estranhamento cultural muitas vezes dentro de um mesmo país, como era o caso dos italianos do norte, industrial, com relação aos do sul.
Outros países, como a Rússia, ficavam no limite da questão. Seria mais européia que asiática na medida em que seus governantes empenhavam-se em investir nas indústrias, apesar de possuir vastas extensões territoriais, cujos habitantes estavam de tal forma distantes da cultura, que pareciam viver em outro século.
Além do critério de industrializacão utilizado para definir a parcela de desenvolvimento de uma nação, a urbanização também serviu de parâmetro. O mundo civilizado era organizado em cidades que, pouco a pouco, iam tomando conta dos campos que as cercavam.
A sociedade burguesa européia ditava os costumes e era a responsável pelas transformações intelectuais. A cultura da elite, representada pela biblioteca e pelo museu, foi estendido a toda a população, como uma exigência do liberalismo, mas estava articulada com os interesses das classes dominantes.
Em termos políticos, um país “avançado” deveria seguir um padrão previamente determinado e que quase não permitia variações. Por exemplo, deveria ser um Estado de direito, com uma constituição única e cujos habitantes desfrutassem de certos direitos políticos e jurídicos básicos, entre outros.
Seus habitantes também deveriam se enquadrar aos critérios liberais burgueses, com indivíduos “juridicamente livres e iguais”. Em alguns países, tais como Brasil e Cuba, a escravidão legal ainda existia, muito embora vivesse seus derradeiros anos.
Assim, as diferenças entre os mundos pareciam cada vez mais visíveis, uma vez que uma grande parcela do mundo considerado ”atrasado”não partilhava das mesmas divisões políticas territoriais. Não possuíam Estados, e para alguns, nem esse termo seria aplicável às suas unidades políticas. Alguns eram compostos de colônias de potências européias, ou antigos impérios, tais como a China, a Turquia ou a Pérsia.
No entanto, era na cultura da população que residia a maior diferença entre os dois mundos. O grau de alfabetização crescente dos ditos países desenvolvidos contrapunha-se em grande parte ao que era, então, à parcela menos favorecida do mundo, em que um menor grau de urbanização estava diretamente relacionado ao predomínio do analfabetismo.
O século XIX foi marcado pela necessidade de transformações de tal forma, que o índice de progresso de uma nação podia ser mesurado por sua capacidade de produção material, bem como do desenvolvimento de seus meios de comunicações.
A tecnologia moderna começou a ser “visível”, apresentando-se ao povo, através das locomotivas, dos telégrafos e dos navios a vapor. Além disso, outros avanços tecnológicos permitiram a invenção das turbinas, dos motores de combustão interna, do telefone, do gramofone, da lâmpada elétrica, do automóvel, do cinematografo , da aeronáutica e da radiotelegrafia.
À época, o impacto dessas invenções na sociedade era de difícil previsão, uma vez que mesmo na dita parcela desenvolvida do mundo, a distribuição de renda para o consumo era desigual. No ano de 1870, cerca de 80% da população era composta pela classe trabalhadora, contra 3,5% de ricos e aproximadamente 14% , pela classe média.
A expectativa de vida média acabou tornando-se maior, e as taxas de mortalidade infantil entraram em declínio. Mesmo assim, o “progresso”não era percebido da mesma forma nas diversas partes do mundo.
De acordo com Hobsbawn “o progresso fora dos países avançados não era um fato óbvio nem uma suposição plausível, mas sobretudo um perigo e um desafio estrangeiros”. Isso porque ia de encontro, muitas vezes, com os hábitos e costumes arraigados das populações, o que de certa forma, podia ser considerado como uma intromissão, uma nova forma de dominação estrangeira.
Perigosamente, uma nova idéia começa a tomar forma. A recusa (ou impossibilidade) da maioria dos habitantes do mundo em viver de acordo com as novas regras impostas pela parcela ocidental burguesa, acabou sendo interpretada como um sinal de fraqueza.
Uma enorme parcela da humanidade foi considerada biologicamente incapaz de realizar aquilo que aos europeus parecia fácil. A desigualdade social foi justificada através da biologia, em que o conceito de raça superior começou a tomar forma.
Nas repúblicas da América Latina, esse pensamento refletiu-se de uma maneira muito curiosa. Os políticos e ideólogos abraçando a idéia de superioridade genética, concluíram que a chave do progresso residia justamente no branqueamento populacional progressivo.